Crônica e Poemas para Acordar
Hoje é um bom dia para publicar minha nova coletânea – Poemas para Acordar. Três de três de dois mais um, que dá também três. Somando tudo, dá nove, e fora esses, zero. Pronto! Belo dia também para publicar esta crônica.
Andando por uma livraria aqui perto, outro dia, fiquei triste ao me deparar com uma seção tão modesta reservada à poesia, e na terra de Goethe! Pode? Pode. Não faz mal, como eu disse outro dia num comentário a um colega: poeta, poeta, poeta de qualquer jeito, o público gostando ou não. É que poesia vive por si mesma e é livre, por natureza. Tem gente que tenta restringir, mas... Quer saber, cada um é cada um. Cada poeta que cuide dos seus... versos.
Sim, voltando ao eixo: há tempos não escrevia uma crônica. Vai ver não estava na estação. Idéias interessantes sobre fases na escrita li ontem na crônica de Ricardo Toledo (1), As Estações de um Escritor. Vale a pena conferir.
Pois sim! Na verdade tenho escrito bastante, e ouvido mais sussurros de esquálidos escritos que ainda é cedo para publicá-los. Devo estar criando ‘calos’ da escrita ou coisa do tipo, sei lá! Mesmo assim não me arrependo de ter conhecido, na superfície, idéias de Foucault, Barthes e Derrida, o que de certa forma sinto me bloquear.
Talvez esse mesmo medo muitos iniciantes tenham. Há que evitar se expor demais. Tudo na vida, parece, requer equilíbrio. De todos os mestres que me rodeiam, creio que o Silêncio, dentre eles, é o maior. Não sei dos colegas, mas eu, para escrever, necessito silêncio interno, calma, tempo para ouvir a dança no ar do ar que me rodeia.
Lendo o jornal local, outro dia, deparei com a história de uma escritora que, de um momento para outro, tornou-se regionalmente conhecida. Está preparando agora sua quinta publicação, todos romances históricos. Jamais freqüentou qualquer curso para escrever e, mesmo tendo emplacado quatro livros, quase um a cada ano, disse estar convencida: só da escrita não dá para viver – digo, pagar as contas. Sim, viver por aqui custa caro.
Para ela, escrever é um hobby. Os filhos já estão criados e, muito provavelmente já criaram asas – por aqui os pimpolhos vivem na casa dos pais só até os dezoito anos e então ‘tchau!’. Coisas da cultura. Nós latinos, neste ponto, somos ainda bem tribais – não uma crítica, só uma observação.
O que me chamou a atenção nesta colega é a seriedade com que leva esse seu hobby. Romances históricos requerem muita pesquisa e se tem algo que ela faz questão é que os fatos sejam veiculados corretamente. Outros autores poderiam se contentar com uma pesquisa na Internet. Ela não, vai atrás de fontes seguras em bibliotecas, checa bem as informações. Juntando tempo, gosto por um trabalho bem feito e talento para contar histórias, em nada me surpreende a boa aceitação de seus romances. Estou feliz por ela. Nem a conheço, que fique claro.
Parece que foi ontem mesmo: pendurei num mural aqui em casa um cartaz com a frase ‘Ganho a vida escrevendo’. Não estava pensando em fama ou dinheiro, e sim retornar à vida, reencontrar uma identidade que parecia perdida. Ao que tudo indica, funcionou. Em tudo o que faço, primo por prazer e utilidade. Até agora tenho colhido bons frutos desta filosofia de vida.
Li A Soma dos Dias, da Allende e tive várias impressões. Uma delas, a de que a autora estava cansada, cansada de escrever e colorir histórias-cinza. Talvez por isso, a essa altura da vida, uma biografia, uma auto-análise, um balanço. É preciso muita coragem para se escrever um balanço da vida. Muito mais ainda para publicar.
Tenho muitas dúvidas. Se bem que, em tudo o que escrevemos vai automaticamente um pedacinho da alma, uma gota de essência. Não devo dar descanso a meus dedos. Ando escrevendo, ajo escrevendo, como escrevendo fantasticamente. Só na hora de prender as palavras ao papel é que me rebelo. Por quê? Tenho medo, medo de me expor demasiado, como já disse. Registrar o que pensamos é bom. Nos ajuda também a crescer. Mas mostrar o coração para o mundo não é sábio, aconselhou Wilde.
Sinto que cresci muito desde que comecei a escrever. Tenho conquistado leitores, mesmo sem querer. Outro dia, navegando pela internet, buscando uma informação específica, caí numa página cheia de conselhos de marketing para novos autores. Um dos conselhos: viva na blogesfera! E eu, comigo: Tá doido?! Se for assim, jamais serei conhecida. Odeio conselhos cheirando à naftalina de capitalismo, palestras tipo pirâmide ou não sei o quê das quantas dos negócios e da prosperidade. Tudo isso me soa tão de plástico! Eu gosto de algo que chamo autenticidade e é o que busco para mim.
Dou o que tenho, quando posso, de bom grado. Sendo assim, surpreender-me-ia se alguns leitores esperassem de mim uma atitude de barganha. Se me lêem, sou muito agradecida, porém não esperem que retorne visitas por obrigação. Até agora, tenho me sentido muito livre e só escrevo mensagens e comentários quando sinto vontade, vontade do fundo do coração. E sobretudo quando tenho tempo, claro.
No fundo, tenho movido uma campanha: vivo a vida real! Meu tempo on-line é regrado, para manutenção de minha própria saúde mental e dos meus relacionamentos. Acredite, sei do que estou falando. Calo por enquanto minhas impressões sobre o que poderá resultar de toda esta revolução digital. Quanto tempo você passa on-line? Já parou para pensar nisto?
Mesmo que você não acredite, acho que ficaria mais feliz em saber que não leu este meu texto porque estava empregando seu tempo lá fora, com a natureza, familiares ou amigos. Uma vez, num comentário, disse que temia um dia ser enforcada pela minha própria língua, seja na forma oral ou escrita. É isso o que acontece, geralmente, quando se escolhe viver uma vida real, com sinceridade. E contradições são parte da vida, não?
De todos os modos, aos meus leitores sou muito grata. Estarei diminuindo a freqüência de postagens. Talvez uma a cada duas semanas, não sei ainda, à medida do tempo livre. Escrever tem agora um aspecto muito mais sério e responsável que antes, e eu não ganho ainda o meu pão com isto.
Ou seja, para todos os efeitos, mesmo gastando horas e horas com textos, tenho que encarar esta atividade ainda só como hobby, distração e, por vezes, fuga da realidade. Sobretudo: algo que me dá muito prazer e, sendo útil para mais alguém, grande satisfação.
Até a próxima, um abraço fraterno! :-)
(1) – Ricardo Toledo – As Estações de um Escritor
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2115993