DE FIOS DE BIGODE X HONRA

Inspirou-me a crônica “POLÍCIA PARA QUEM NÃO PRECISA DE POLÌCIA”do meu amigo Dante Marcucci, cujo tema era sobre a blitz que a polícia faz diáriamente próximo à sua casa e na qual abordam trabalhadores desavisados, resultando daí, uma grande números de multas de trânsito. Embora veja este fato com uma certa indulgência, pelos infratores serem pessoas honestas e trabalhadoras, “gente de bem”, enfim, e tenha achado um pouco injusta a severidade da polícia em relação a estas pequenas transgressões, se comparadas à impunidade para criminosos de fato, creio que regras devem ser seguidas por todos e cobradas na medida justa. Uma excelente crônica, que despertou minha atenção ainda mais, com a frase que finalizava o texto: “-Vou ensinar meus netos a serem gente de bem!”. Esta frase reportou-me à minha infância, e lembrei-me das lições de vida e de amor que recebi de meus pais.

Muito embora fossem pessoas simples e pouco instruídos, meus pais tinham um modo especial de ver e viver a vida. Eram amorosos, e a nós bastava seguirmos seus passos que eram trilhados sempre na bondade, na generosidade e no valor da palavra empenhada. Eram “gente de bem” e devido à minha pouca idade e percepção da vida naquela época, não entendia o real significado disto e quão importante isto seria na minha vida. Mais tarde vim a perceber que de um modo simples, eles moldaram nosso caráter e nossa visão da vida de modo a manter, acima de tudo, a nossa palavra. Meu pai dizia , e acreditava firmemente nisto, que um homem de verdade só poderia ser considerado como tal, se honrasse os fios de bigode empenhados num pacto entre as pessoas. O fio de bigode simbolizava o compromisso, a honra em cumprir o tratado! Preservava sempre a verdade e incentivava-nos à mantê-la sob quaisquer circunstâncias, pois sabia que assim, não perderíamos os verdadeiros valores da vida. Não haviam regras estabelecidas mas o respeito era a base de uma relação familiar de consciência sobre a “autoridade” e “preferência”, das quais os mais idosos usufruiam. Com um simples olhar , sabíamos se nossas atitudes estavam corretas ou não. Meus pais não admitiam que entrasse em nossa casa, um único objeto sequer, do qual não provássemos a procedência, do contrário éramos obrigados a devolvê-lo, por que “gente de bem” não se apossava do que não lhe pertencia! Simples, assim.

Mesmo não tendo a pretensão de julgar o comportamento de ninguém, apenas expôr o meu ponto de vista, noto no comportamento de certos pais, em relação à educação de seus filhos, uma certa tolerência para com atitudes pouco éticas, pouco educadas, que a meu ver enfraquecem o caráter dos jovens. Particularmente adotei como método de educação de meus filhos, primeiramente a verdade, acompanhada de amor e generosidade, somados ao respeito e individualidade. Não é uma fórmula mágica, mas funcionou perfeitamente, visto que jamais tive quaisquer problemas de má conduta de meus filhos.

Creio que deve haver sim, uma preocupação em ensinar aos nossos filhos valores morais fundamentados na verdade, que os tornem pessoas de bem, conscientes do seu papel na sociedade e para que suas futuras gerações, mesmo que não tenham bigodes, honrem a palavra empenhada!

Helena Grecco

03.03.2010