Aderaldo, o contador de estórias
 

                         Animado pelas leituras das crônicas chistosas, embora muitas delas escritas num estilo não muito católico, por serem ligeiramente imorais, e por isso mesmo saborosas, do grande Roberto Rego, aqui do Recanto das Letras, muito lido pela patota do site, resolvi tomar coragem e contar duas estórias do Aderaldo. Mas juro para minhas amigas e amigos, já pedindo perdão, que será só essa vez.
                    Chego a esta crônica, digamos mais ousadinha, seguindo a máxima de antigo treinador de futebol, o técnico-filósofo, Gentil Cardoso. O homem era cheio de frases de efeito e a que me refiro dizia o seguinte: “Quem se desloca, recebe e quem pede tem preferência”. Seguir isso no futebol continua sendo primordial, pois um jogador que se desloca, com certeza, ficará livre da marcação adversária. Já quem pede a bola é porque se acha em melhor condição para tentar o gol.
           Pois foi o que fiz intuitivamente quando penetrei neste santuário que é o site Recanto das Letras. Embora não tivesse em condições de marcar o “gol”, pedi a bola no sentido de receber apoio de uma veterana e experimentada escritora, a compreensiva Maria Iaci, que não se fez de rogada e me deu o primeiro estímulo para continuar por aqui “escrivinhando”, no que lhe sou muito grato. Logo depois, já animadinho, me desloco até o cantinho do grande jornalista Roberto Rego e recebo, generosamente, mil sugestões de como nadar bem neste mar de letras, muita vez encapelado e tomando cuidado com os arrecifes para não me ferir.
                  Depois desse rodeio todo, como um Garrincha driblando pra frente,pra trás e pros lados, chego, finalmente, às estórias do Aderaldo.
               O dito cujo era amigo de um amigo meu e num determinado ano passou a freqüentar a repartição onde eu trabalhava, contando histórias das mais mirabolantes, sendo ele sempre o protagonista do drama ou da comédia, que ele narrava, fazendo questão de detalhar todas as peripécias.
           Eram acontecimentos incríveis, difíceis de acreditar, mas o Toldo, amigo do Aderaldo, desde o jardim de infância, lá no Instituto de Educação, na rua Mariz e Barros, Tijuca, no Rio,me afirmava que as estórias eram autênticas.
     Toda tarde, na hora do lanche, brilhava o Aderaldo, baixinho,magrinho, rodeado de colegas, todos espantadíssimos com suas épicas narrativas. Terminava o conto, invariavelmente, fazendo um biquinho na boca, quase lembrando um coração. Recordo-me bem que ele sempre falava de uma bela mulata, de nome Aline.                    Parece que ele até foi apaixonado pela mulata escultural. Pois bem: certo dia o Aderaldo nos conta o problema que ele teve com seu maior amigo, justamente por causa da Aline. Ele contou que o Pierre, francês, com um ano apenas de Brasil, com aquele sotaque carregado, um belo dia o imprensou, cara amarrada, e à queima roupa lhe perguntou: - Aderraldo, porrr favorrr, seja sincerro, não minta, diga parra mim, você comeu Aline? Sem pestanejar e na bucha, simplesmente mandou a resposta curta e seca: - “Comi”.
         Foi quando o francês num longo lamento e procurando interpretar a traição, lhe disse:- Eu sabia, eu sabia. Também, Aderraldo, você a trratava como uma lady! O interessante é que o Aderaldo ao contar suas diabruras, demorava-se nas explicações e chegava a ditar regras de como sair “por cima” de situações desesperadoras. Era um estrategista e tinha o raciocínio rápido.                     Falava deitando cátedra e era muito divertido, finalizando sempre com aquele biquinho de coração.Tirava da manga a carta salvadora e no caso da Aline, explicava que o francês acabou até lhe abraçando, comovido e sem revolta, justamente pela sinceridade dele. Falou na cara de pau que tinha comido e pronto. E nós, ouvintes, de olhos arregalados, espantados com este final patético, pois naquele tempo, sabíamos, um caso desses acabava em morte.
             Foi nesse embalo que um colega, muito inseguro, animado em ver como o Aderaldo era “safo”,resolve lhe pedir um conselho de como sair de uma enrascada,embora prosaica, que costumava acontecer com ele, em todo começo de namoro, talvez até por excesso de nervosismo. – Qual é o problema, amigo?, perguntou ele. – É o seguinte, Aderaldo, ultimamente, tenho saído com uma namorada nova e por duas vezes fiquei em apuros, me segurando pra não dar um “pum” na frente dela, morro de vergonha. Da última vez, já no motel, tive que sair correndo para o banheiro, fingindo uma tosse súbita, e uma vez lá dentro puxei a descarga da privada, ao mesmo tempo em que soltava um “pum”, para melhor disfarçar. Como este estrategema já está ficando manjado, como devo proceder numa situação dessas? O que você faria? Prontamente, não hora, não vacilando nem um minuto, o nosso Aderaldo, expedito como ele só, já fazendo o tradicional biquinho-coração, deu a solução: - você age assim: olha nos olhos da moça e diz, sem cerimônia: vou dar um peidinhoooo , solta o peido e começa a rir. É batatolina, ela vai começar a rir também e depois dessa você vai poder peidar à vontade, íntimo que você fica da moça, logo no primeiro dia.
                 Na semana seguinte perguntei candidamente ao colega “pumzeiro” se ele estava seguindo os conselhos do mestre Aderaldo.                    Veio a resposta em tom desanimado: - Claro que não, só mesmo o Aderaldo para fazer isso. Pra encerrar a conversa, meu amigo, ontem à noite tive três acessos de tosse e quase minha namorada me levou para o pronto socorro, pensando que eu estava morrendo.