“O Poeta não morreu, estreou no Céu.”
Certa manhã de Agosto,
Um anjo que vive nas alturas disse:
Venha, Carlos, ser gauche na eternidade!
O poeta partiu e sua ausência empobreceu ainda mais nossa Itabira e o Brasil, já tão carentes de idéias e poesia. Mas a voz de Drummond, afinada nos vários anos de luta com as palavras, e que teve seu começo numa velha rua de Itabira, se espalhou para os quatro cantos do mundo, agora vibrará para sempre em pátrias distantes.
São vinte e dois anos sem a presença física do Poeta gauche de Itabira. A cada ano, uma doce saudade toma conta de todos nós que aprendemos amar e reverenciá-lo. Sempre aguardávamos ansiosos por um novo poema, uma crônica, até mesmo sua participação em um programa de TV. Era momento de orgulho ver o nosso conterrâneo na telinha. Aquele mineiro tímido, desconfiado expressando sentimentos. Como era prazeroso!
Lembro-me, foi quando cursava a segunda série na Escola Normal Mestre Zeca Amâncio, ali no velho Grupo de Itabira onde o poeta aprendeu suas primeiras lições, que tive o primeiro contato com um texto drummondiano: “O Cometa Halley”. A passagem desse majestoso astro pelo céu de nossa cidade era descrita detalhadamente. Foi um misto de encantamento e orgulho, uma satisfação imensa em saber que quem escreveu aquele texto tão bonito também havia nascido aqui, na minha terra.
Assim que cheguei em casa, imediatamente contei a novidade para minha mãe, e fiz a leitura do texto. Ao terminar, ela fez o seguinte comentário: “é um dos filhos dos Andrade, gente importante que foi embora da cidade como muita gente está indo”. Senti em sua fala algo estranho, carregado de sentimento, principalmente quando disse “como muita gente está indo”.
Comecei a questionar-me sobre aquele sentimento forte presente na alma itabirana, curioso por entender o que era, de onde vinha, por quê. Só me foi possível clarear tais questões, a partir do momento em que aumentei a convivência com a literatura de Drummond. Foi aí que percebi a inquietude da alma itabirana. “Por isso sou triste, orgulhoso de ferro”. Entendi que todo aquele sentimento era uma expressão de amor.
Drummond demonstrou, com seus versos, um incondicional amor à sua velha Itabira. Com sua sensibilidade poética, cantou as coisas mais simples da alma humana. Imortalizou João, José, Tereza, Maria, Antonio, Lili. Protestou quando mudaram o nome de sua terra natal. Sofreu ao saber que o maior trem do mundo estava levando sua terra para a Alemanha, Japão e Canadá.
Muitas vezes foi incompreendido pelos seus, mas amado por muitos.
E agora Poeta?
Todo garboso aí do alto,
ao lado de sua Dolores e sua Maria Julieta.
Trocando figurinhas com Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Roberto Drummond, Vinicius e Cora Coralina.
E nós aqui da terrinha, morrendo de saudades de suas “gauchisses”
Você sempre será a doce herança itabirana.