Crianças de rua
Ao ver uma criança na rua pedindo, com cara de fome, triste e suja, você dá o dinheiro? Difícil questão. Parece que se não dermos seremos insensíveis, e de fato é muita crueldade passar por um ser humano que está nas ruas, que é mendigo ou pedinte e não sentir um certo amargor da vida. Além da culpa. Sim, porque às vezes pensamos que, se uns tem mais é por termos tirado dos outros, ou, se temos mais poderíamos dividir com quem tem menos.
Mas a coisa vai muito além disso. É justo que um trabalhador receba dignamente seu salário, portanto não deve sentir-se culpado por esses problemas sociais. Pode, sim, sentir compaixão, solidariedade, e caso queira, ajude. Contudo, não é porque o outro está numa posição desfavorável a sua, que deve sentir-se culpado por gozar de seu dinheiro. Assim como, na maior parte das vezes, não é culpa de quem está nas ruas se encontrar em tal situação, existem vários problemas sociais que o levaram até lá.
Voltando a questão de dar ou não dinheiro a uma criança na rua, digo que não se deve dar porque assim ela continuará ali, onde não é o lugar dela. Lugar de criança é na escola, e se essa criança continuar recebendo dinheiro não terá motivo para sair de lá. E elas estão ali, ou porque são forçadas pelos pais para ajudar na sobrevivência da família, ou porque ela está sendo aliciada por outros adultos, podem até serem os próprios pais, para conseguir dinheiro para drogas. No primeiro caso, parece que a razão é digna, mas não é, pois essa criança já está numa situação bastante desfavorável socialmente, sem estudo, praticamente não terá chances na vida. Agora, se for para drogas para ela e para os seus aliciadores, aí a coisa passa a ser bem mais grave.
Não pensem que também já não dei dinheiro, é difícil você imaginar que aquela criaturinha, sem culpa de estar nesse nosso louco mundo, está ali com fome, e você podendo ajudá-la, não o fará. Ainda outro dia aconteceu de estar passando minhas compras no supermercado e um menino veio com uma bandeja de iogurte e pediu-me que o pagasse. Paguei e pensei: ao menos é algo que sei que ele irá comer. No entanto, a moça da caixa me alertou: “já vi eles fazerem de tudo para trocar por drogas, não ia duvidar nada se ele não fosse na casa do traficante trocar o iogurte por drogas, porque, afinal, o traficante tem filhos, sabe como é...” Fiquei estupefata com sua ilação, muito embora ela pudesse ter razão. Na saída do supermercado avistei o menino e, para minha tranquilidade, comendo o iogurte.
Será que ainda há esperança?
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