PAREDES
Amo as paredes do meu quarto. Também pudera. As vi nascerem tijolo por tijolo sobre a argamassa, ficarem adultas nuas e cruas, receberem pele de reboco macio, vestirem-se de combinações brancas cor da cal. Íntimos visceralmente, divido com elas minhas alegrias, angústias, decepções. Viram-me marejar os olhos pela ausência eterna dos meus pais, pela formatura dos meus filhos, presenciam paulatinamente eu degustar pratos de desgostos em molhos de fel, sopas de desenganos, vestem-se de negro em meus porres de solidão. Expandem-se me dando ar em minhas crises existenciais, quedam-se espantadas com minhas masturbações cerebrais. Ficam palidamente discretas em meus “strip-teases” diários, emparedam-me repreensivamente quando imagino ódio, vinganças.
Há rumores de que pretendem vestir a casa em novas cores. Converso com elas. Prefiro-as como estão. Concordam. Elas suspiram quando, à noite, tateio-as metendo as mãos por entre suas combinações bolinando-as, à procura do banheiro.
Amo as paredes do meu quarto. Alvas, nuas, lindas, sem penduricalhos, nutridas de fidelidade.
Amo as paredes do meu quarto. Também pudera. As vi nascerem tijolo por tijolo sobre a argamassa, ficarem adultas nuas e cruas, receberem pele de reboco macio, vestirem-se de combinações brancas cor da cal. Íntimos visceralmente, divido com elas minhas alegrias, angústias, decepções. Viram-me marejar os olhos pela ausência eterna dos meus pais, pela formatura dos meus filhos, presenciam paulatinamente eu degustar pratos de desgostos em molhos de fel, sopas de desenganos, vestem-se de negro em meus porres de solidão. Expandem-se me dando ar em minhas crises existenciais, quedam-se espantadas com minhas masturbações cerebrais. Ficam palidamente discretas em meus “strip-teases” diários, emparedam-me repreensivamente quando imagino ódio, vinganças.
Há rumores de que pretendem vestir a casa em novas cores. Converso com elas. Prefiro-as como estão. Concordam. Elas suspiram quando, à noite, tateio-as metendo as mãos por entre suas combinações bolinando-as, à procura do banheiro.
Amo as paredes do meu quarto. Alvas, nuas, lindas, sem penduricalhos, nutridas de fidelidade.