O corvo
Conheci Carlos Lacerda pessoalmente, quando estive em Três Lagoas e Seu Antonio ofereceu um churrasco à Caravana da Liberdade. Dos políticos mais conhecidos estavam ainda, Juracy Magalhães e Tenório Cavalcante acompanhado de sua metralhadora chamada Lourdinha. Carlos Lacerda, vulgo Corvo, não passava de um político dos mais ardilosos daquela época; tinha uma ambição absurda pelo poder e usava uma inteligência iluminada, para arquitetar as maiores sacanagens contra a classe política.Não explico o paradoxo, mas fez uma administração soberba, como governador do Rio de Janeiro; como orador era admirável, capaz de defender o indefensável, sendo um dos mais notáveis, o discurso que pronunciou na Câmara em defesa do próprio mandato. Gostei muito dele, cheio de carisma e simpatia pessoal; falava com voz empostada e ritmada; era um assombro! Tenório Cavalcante também falava bem, usando silogismos e metáforas bem dosadas; era um político inqualificável, verdadeiro pistoleiro das Alagoas; segundo diziam, um pistoleiro frio! Eu gostava dele pelo mito de Lampeão que pairava sobre minha alma; afastava todos seus desafiantes e teve um fim de vida melancólico, perdendo todo o poder que emanava da violência, quando a revolução (?) derrubou suas trincheiras. Quanto a Juracy Magalhães, homem que foi quase tudo neste Pais, era vaselina não cheirando nem fedendo, se me desculpam a grossura da expressão. Seu Antonio matou tres vacas para o churrasco, que fez o regalo dos participantes; acredito que compareceram mais de 150 bocas livres.Tenório teve uma indisposição gástrica e precisou ser consultado,não se tendo afastado da metralhadora durante o exame. Acredito que o pessoal de Três Lagoas não se tenha impressionado com o fato; armas, tiros e morte eram coisas normais. Lacerda encerrou a carreira política sendo cassado pelo golpe de 1964.