SOMBRA E ÁGUA FRESCA (BVIW)

Tem gente que se assombra com sombras que se movimentam na parede ou no chão. Outras têm medo de assombração. Confesso que eu também ficava aflita na hora de dormir, ainda menina. Via sombras que se mexiam, aumentavam e diminuíam, parecia que vinham ameaçadoras dançando em minha direção. Mas aí eu me lembrava daquelas que papai fazia com as mãos, formando orelhas de burro ou coelho, focinho de cachorro bravo abrindo e fechando e asas de pássaro voando. E do cineminha com vela atrás da tela. Então eu ria.

Junto com as amigas eu me divertia, à luz do dia, vendo nossas sombras se esticarem no chão. Na praia era o relógio que me fascinava. Rodopiando o pé em pirueta na areia, um graveto fincado ao centro - parecia mágica - a hora certinha eu sabia.

Sombra dos antepassados não temo, prefiro aquela real de uma frondosa mangueira, principalmente nessas tardes quentes de verão. E se for deitada numa rede, então... bebendo água de coco... que vidão!