Fórmula para futuro bilionário

Precisou ligar para casa. A velha aos noventa anos estava excepcionalmente sozinha. Saiu cedo. A empregada chegaria logo das férias numa espécie de revezamento. Ligaria às nove horas para saber se tudo estava indo bem. Velha forte, lúcida, boa de carnaval na avenida até altas horas.

Revisava ao máximo os detalhes da rotina porque assim evitaria remorsos. Antigamente havia o telefone chamado de “orelhão” e ele devorava um tipo de ficha que garantia pedido de socorro ou emprego. Refletiu saudoso das fichinhas.

No cafezinho habitual antes do escritório olhou o relógio. A empregada deveria ter chegado. A consciência por deixar idosa sozinha por si só parece um crime mesmo que ela frequente academia de halterofilismo. Depois os vizinhos estão sempre dispostos para corrigir no alheio os piores desenganos. Era calado, parecia hostil, sendo na verdade tímido. Chupou o café e lançou mão do grande invento denominado “celular” graças aquela aparência minúscula. Já ninguém faz telefones para homens, disse sem graça mirando a xícara vazia. Para evitar que aquela atendente boazona notasse seus dedos grossos tentando apertar numerozinhos.

Saltou uma voz feminina de dentro da maquina com afabilidade postiça: O senhor tem menos de dois reais em crédito.

Nem ligou, afinal era mulher eletrônica. Discou. Poderia ser quantia suficiente para perguntar: A Valdirene já está varrendo os pelos da gata em cima do sofá? A avó responderia sim e pronto. Missão cumprida.

Ninguém atendeu. A mensagem de que havia terminado o crédito fora eficaz. Sem falar nada gastou menos de dois reais. Ou melhor: sem falar nada gastou menos de dois reais. Repetia. Era de enlouquecer. Seu dinheiro havia sumido na mágica da informação.

Queria descobrir a fórmula para garantir um futuro bilionário.

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