SAPATOS MOLHADOS

Lá estávamos para mais um dia de alegria.

Choveu, e a manilha entupiu mais uma vez. A água do riacho transbordou. Agora passava no pequeno leito que havia sobre rua de terra. Então alguma alma boa colocou três pedras de bom tamanho para os passantes atravessarem o veio de água.

O que fazíamos? Coisa má, muito má!

- Crianças não façam isso!

Obra do coração sádico de crianças na fase de latência e de adolescentes. Ocupávamos em substituir a pedra do meio por uma outra de pouca espessura e apoiada sobre gravetos de bambu.

Os adultos então vinham com seus sapatos e meia, numa longa estrada, entre o bairro e o centro da cidade. Era a nossa vingança contra os adultos que batem em suas crianças. Nós apanhávamos naquela época. Coisa ruim, muito ruim!

De repente: pluuuft! Os gravetos quebravam e os sapatos enchiam de água. Isto enchia de alegria a nossa alma sádica. Ríamos baixinho escondidos atrás do barracão. Não satisfeitos, repetíamos todo o processo.