A SENTENÇA DO MEU AVÔ

Meu avô nasceu em um ano bissexto, portanto, ele faz aniversário em algum lugar no tempo entre ontem e hoje. Se seguirmos a lógica do calendário gregoriano e a tradição, meu avô, que nasceu em 29 de fevereiro, não está fazendo 82 anos, e sim entrando agora na fase dos vinte e poucos.

Para quem cresce sem um pai, o avô é o seu herói. Quando eu era criança e vivia com ele, no sertão da Paráiba, ele foi toda a inspiração masculina que eu poderia ter numa família tão matriarcal. Aquele homem forte, alto, trabalhador, que trazia o sustento para a sua casa, direto da roça; era um símbolo de tudo aquilo que eu queria me tornar.

Lembro, que num certo fim de semana, fui com ele para a roça. Eu nunca tinha ido, nem ele queria, pois dizia, que menino tinha que estudar ou brincar; roça era para gente adulto; "cada um com a sua sentença", repetia ele; mas de tanto eu insistir, ele me levou; e seguimos os dois, mata a dentro, pelo sertão paraíbano, enquanto o dia amanhecia e no radiozinho que ele trazia, a banda americana Alphavile cantava "Forever Young".

" Let's dance in style,

let's dance for a while

Heaven can wait

we're only watching the skies"

Toda vez que ouço essa canção, recordo da cena do menino andando ao lado de um gigante enquanto o sol surgia no horizonte...

Fomos para a roça, e ele me ensinou, como se plantava. Aprendi desde o cuidado com as sementes à quantidade certa d'água.

Nunca havia me divertido tanto.

Na hora do almoço, sentamos à sombra de uma árvore, e comemos, cada um a sua marmita. Senti-me adulto, do tamanho dele; e percebi naquele momento, que bem em breve, seríamos eu e o meu filho, ou quem sabe, o meu neto. Eu ensinaria para esse menino tudo aquilo que me ensinava o meu avô, principalmente, a lição de que cada um tem a sua sentença, e a sentença de menino é aprender a viver.