LIÇÃO DE PROFESSOR

Novamente chegou o dia de voltar às aulas. Para quem vai à escola pela primeira vez, é um dia mágico, cheio de encanto e expectativa, que sempre será lembrado, embora seja muito cedo para os pequenos alunos o saberem. Para quem já está habituado a esse retorno após um período de férias, ainda é um dia especial, de matar a saudade dos amigos, ver o que será estudado nesse ano, e acima de tudo, simboliza um passo adiante no aprendizado e, por conseguinte, na aquisição de conhecimento.Mesmo para nós, universitários, o voltar às aulas é um processo de retorno. Seja de retorno ao cotidiano, seja de retorno à infância e àquela ansiedade gostosa por saber quais os mestres estarão conosco no semestre, quais descobertas faremos, o que de novo acrescentaremos às nossas vidas.

No entanto, no que se refere à educação, quero levar comigo dessas últimas férias uma imagem a qual tive acesso pela televisão. Não falo das filas em busca de vagas nas escolas públicas para os alunos, nem de alguns prédios devastados por temporais anteriores que ainda não estão em condições de serem usados. A imagem que quero dividir com todos veio do Haiti. Sim, de um país muito pobre da América Central recentemente devastado por um terremoto, agravando ainda mais sua situação de miséria.

Dentre as muitas reportagens que acompanhamos exaltando a calamidade da situação, houve uma que rapidamente mostrou um professor do primário, que no meio de toda aquela bagunça e de todo o entulho, tentava reerguer com as próprias mãos a sala de aula que o tremor destruíra. Diante dessa cena, fiquei me perguntando quantas são as pessoas que acreditam com tanta convicção na educação. Onde estão os que apesar das atrocidades veem na formação das pessoas a possibilidade de um futuro melhor. O professor, que naquele momento, estava pensando primeiro em ter um espaço no mínimo limpo para receber seus alunos, mereceu apenas uma rápida olhadela do mundo; enquanto todos viam apenas a destruição avassaladora do local, e voltavam os olhos penalizados, ele, um sobrevivente, via com esperança um local que precisava ser resgatado da destruição.

A tarefa daquele professor, naquele exato instante, era solitária. Não havia ninguém o ajudando a desenterrar sua sala de aula. Cavava o espaço em que exercia sua profissão para trazê-lo de volta à vida. Num lugar onde o que mais havia era dor, sofrimento, tristeza, falta de tudo. Falta talvez até de alunos que perdeu. Ainda assim ele estava lá, firme em sua vontade, acreditando em seu trabalho, dedicando-se a seus discípulos em silêncio, sem pedir nada em troca além do direito de ensinar tudo que puder a seus alunos.Quantas vezes a tarefa do professor é solitária, é árdua, difícil de realizar. Claro que não é comum vê-lo levantando uma escola literalmente, mas isso acontece todos os dias ao renovar a esperança e ir trabalhar, sabendo que embora tenha um espaço físico para exercer sua profissão, nem sempre encontrará colaboradores interessados no que ele tem para oferecer.

Neste retorno às aulas, todos que somos aprendizes de professor, já tivemos a primeira lição do ano letivo por ensino à distância. Vimos como um ser humano é capaz de acreditar em outros, independente da situação e dedicar-se a eles, mesmo nos momentos em que sua própria sobrevivência está em cheque. A importância de acreditar em nosso trabalho como um caminho sem fim, onde todo dia há um recomeço, um novo desafio a vencer e que embora as pessoas que conduzamos nesse caminho nos deixem no final, sempre haverá um novo caminhante a nossa espera.

Ediane Menosso
Enviado por Ediane Menosso em 28/02/2010
Código do texto: T2113007
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