TANGERINI NÃO TEM MEDO DE CARETA 3

TANGERINI NÃO TEM MEDO DE CARETA 3

Nelson Marzullo Tangerini

Finalizando a discussão com Careta e fechando, de vez, a tampa do caixão, Nestor Tangerini escreve novamente à revista [Leia-se através da revista Vida Nova]:

“RÉPLICA

Meu caro Glotófilo,

Porque não lhe pareçam razoáveis os argumentos de que se valeu no sentido de amparar o nosso amigo Escalpelo, volto ao meu “quilo de tomate”, lembrando não fui eu quem provocou a questão, na qual ingressei a mal de meu grado.

Diz o sr. Que em “resma de papel” (500 folhas) o artigo é tomado em sentido geral (não há individuações).

E não foi esse o meu pensamento relativamente a “quilo de tomate?”.

Creio me não expressei mal quando escrevi: “O que o uso vem firmando, porém, é “quilo de tomate”, ao lado de “quilo de alho” e “quilo de camarão”, “tendo em mira o produto, e não a quantidade como descontínua”.

Apenas em vez de “artigo”, disse eu “produto”...

Após declarar dever dizer-se “quilo de feijão”, faz obrigatório a sintaxe “quilo de tomates”, alegando que para chegar a esse peso não basta um tomate, salvo se for fenomenal.

Qual o privilégio de feijão, para poder dizer-se “quilo de feijão” sem ser preciso existir feijão fenomenal?

Acaso, para chegar a um quilo de feijão, bastará um feijão?

Não acredito esteja o meu amigo a confundir feijão com abóbora...

E quanto a “quilo de camarão”? Será que nos andam por aí a vender frações de baleia por quilos de camarão?

Por esse caminho, eu poderia entrar a dizer, então, que a frase “quilo de tomates” só devera empregar-se quando se tratasse de quilo de tomates sortidos “garrafinha”, “paulista”, etc.

Mas a saída é ilusória e eu deixo o meu amigo sozinho na vida...

Recurso que também não vinga é a insistência no coletivo “dúzia” (dúzia de coalhadas, dúzia de gramáticos), com o fim de incutir no espírito a obrigatoriedade do plural no complemento restritivo de “quilo” na expressão discutida.

Entre “dúzia” e “quilo” anda alguma diferença.

Uma “dúzia de tomates” tem doze tomates (um para cada unidade) , ao passo que “um quilo de tomate” tem mil gramas de tomate (artigo) e não mil tomates...

“Litro de leite” a par de “dúzia de coalhadas”, e “comer os seus feijões” para explicar o plural “feijões” ao lado de “quilo de feijão”, são exemplificações cuja razão de ser não alcanço, simplesmente por desconhecer “dúzia de leites” e ignorar a sinonímia do verbo “comer” com algum substantivo coletivo – fato este agora que se me depara de fato fenomenal, ante o fato de os sinônimos serem sempre da mesma categoria gramatical... Não atino com a relação de tais confrontos em nosso caso.

Por mais feliz não tenho, outrossim, o exemplo “dúzia de gramáticos”, porquanto estamos tratando de substantivos “materiais”, divisíveis, qual “tomate”, de que um “quilo” pode constar de tantos tomates e “meio”, se os tomates não forem muito pequenos e for honesto o quitandeiro e rigoroso no peso...

Há “dúzia de gramáticos” e “gramático das dúzias”; o que, porém, parece não poder haver é “quilo de gramáticos”, embora qualquer gramático pese vários quilos. E “quilo de gramático”, só matando...

Compreendo: colegas de redação... e tal, e coisa...

Desculpe-me a impertinência, e perdoe-me se pratico simultaneamente o comentário e a pilhéria, no que não vai a menor intenção de menosprezá-lo. O assunto é árido – apesar dos tomates e feijões – e o ter sido sempre a filologia cuidado de frades, não quer dizer tenhamos de conversar com graveza, em curvaturas solenes, de mãos cruzadas ao peito.

Depois, não estamos a trocar ciência...

Sem mais, aceite um abraço. – Rio, 27 de junho de 1943 – TANGERINI – (O Missivist...) “

E conclui a revista [leia-se revista Vida Nova]:

“RESULTADO

MARCADOR

TANGERINI................................................. 3

CARETA....................................................... 0

COMENTÁRIO

Assim terminou a peleja entre o “Careta Futebol Clube” e o “Atlético Tangerini” – com a contagem de 3 a 0 para o “Atlético”...

A partida correu normalmente, não tendo havido sequer uma só entrada violenta.

Indiscutivelmente mais forte, de maior classe, o “Tangerini” não deu tréguas ao contendor, e, dominando-o sempre, no primeiro como no segundo tempo, não viu “infrutíferos” os seus esforços.

O juiz, que entende do “riscado”, mas não é muito, foi algo falho na marcação.

Se Pilar Drummond, o mestre dos cronistas esportivos tivesse assistido à partida, certamente assim se manifestaria: “O que ficou provado é que o Tangerini não tem medo de CARETAS”...

Esta minha impressão sobre a peleja “Careta Futebol Clube” versus “Atlético Tangerini”...

Álvaro Rocha Pinto”.

Parece que, daqui para frente, as caretas que pululam na imprensa nacional resolveram silenciar Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini, 54 anos, é escritor, jornalista, compositor, poeta, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, e membro da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.

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Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 28/02/2010
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