Leia para mim

Alguém se lembra das cartas de amor? As boas e velhas cartas de amor meio pelo qual muitos apaixonados declararam seus sentimentos, hoje em dia não muito popular, são poucos que ainda fazem uso dela para declarar aquilo que sentem, muitos as tacham OLD, eu mesmo devo admitir que em meus tempos de criança, seis ou sete anos, fiz uso delas para declarar o meu amor algumas vezes, não tendo coragem de assinar meu nome apenas assinava, o seu admirador secreto, mas não estou aqui hoje para falar de meus amores de infância e sim de como uma carta de amor encantou uma pessoa e ao mesmo tempo quase deixou outras loucas, isso só prova que tudo depende do ponto vista de cada um. Afinal as coisas têm vários jeitos de ser depende do jeito que cada pessoa vê, eu devia ter uns nove anos e tinha acabado de chegar da escola logo na entrada de casa fui surpreendido por minha prima que vinha muito feliz com uma carta nas mãos, me olhou e falou.

- Leia para mim. – Fiquei meio surpreso, ela queria que eu lesse, queria ouvir as palavras, eu obedeci, a carta dizia:

Oi tudo bem? Já podemos conversar? Bater um papinho sobre nós duas, nossas vidas, nosso amor, por um momento cheguei a pensar que estava tudo acabado, até te ver ontem e nossos olhares se entrelaçarem, percebi, percebi que o que existe entre nós é mais forte que tudo, mais forte que a vida e nem mesmo Deus irá nos separar.

Inconsidentemente Edna.

Tu voltas Edna?

Minha prima suspirou e olhou para o céu, viu o teto estávamos no meu quarto, ela parecia apaixonada mas não queria dar o braço a torcer e voltar para sua amada, eu não escrevi errado e muito menos você leu errado, amada, minha prima é lésbica, voltando a carta, sempre que minha prima me via eu era obrigado a ler a carta novamente, morávamos na mesma casa e estudávamos na mesma escola então percebeu o drama, sempre que eu terminava de ler me perguntava o que seria "Inconsidentemente" pois nem no dicionário eu encontrei o significado dessa palavra, os apaixonados e seu vocabulário próprio, perdi a conta de quantas vezes tive que ler essa bendita carta não só eu mas meus irmãos e todos os nossos amigos também, todos já sabíamos a carta de cor, e o suplício continuava pois minha prima não voltava para sua amada, a carta foi tão manuseada que o papel desgastou, a partir daquele momento além de ler éramos obrigados a reescrever a carta para imortalizar a mensagem, você deve ta se perguntando se minha prima sabia ler, sim sabia mas o prazer estava em ouvir as palavras, sem escolhas eu e meus amigos passamos a fugir dela, já estava ficando insuportável ter que ler aquilo todo dia, e até mesmo quando eu ia dormir repassava a carta na mente e não conseguia parar, certa vez estávamos no quintal brincando quando ela entrou chorando com a carta nas mãos molhada e a tinta desbotando , quando foi lavar o Jens esqueceu a carta no bolso, queria que copiássemos logo antes que a tinta borrasse de vez, nem precisava sabíamos aquela carta de cor e salteando, mas ela não confiou na nossa memória, nem adiantou falar que não tínhamos papel e muito menos caneta ali, em um ato de desespero ela pegou um pedaço de carvão e eu escrevi no muro do quintal, depois passamos novamente para o papel, algo tinha que ser feito ninguém suportava mais ler aquela maldita carta de amor que em nós despertou o sentimento do ódio, ela tinha que voltar para sua amada ou não teríamos paz, resolvemos ir até a amada de minha prima e contar que ela lia a carta sempre, todo dia, todo momento e a levamos ao seu encontro, quando chegamos ao quintal ela estava lá olhando para o muro e suspirando, quando o olhar das duas se encontraram sua amada se aproximou minha prima apontou para o muro e falou.

- Leia para mim. – Enfim as duas voltaram, não posso dizer que viveram felizes para sempre, mas foi assim que uma simples carta de amor quase nos levou a loucura, depois disso só lembrávamos dessa carta para dar risadas e nunca mais tive que ler ela, quer dizer hoje pela manhã quando eu limpava o quintal qual não foi a minha surpresa quando percebi que ela ainda estava no muro, tantos anos depois, o filho da minha prima que não sabe ler e estava me ajudando na limpeza olhou para me, apontou para o muro e falou.

- Leia para mim.

Dahlon
Enviado por Dahlon em 28/02/2010
Código do texto: T2112062
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