AMPULHETA

Ontem eu feliz, eu despreocupado, eu traquinas, eu vagabundo pelas ruas do bairro.

Hoje eu desiludido, eu porejando responsabilidades, eu sisudo, eu repleto de tarefas e encargos burocráticos no trabalho diário do escritório.

Ontem o sol, a luz, o dia, o delicioso e inebriante néctar da vida.

Hoje o vazio, as trevas, a noite negra e o cálice amargo da existência.

Ontem a mentira inocente, a poesia, os sonhos bons, a alegria infinita.

Hoje a verdade cruel, a realidade das coisas, os pesadelos, a violência, a decepção total e flagrante.

Ontem a pureza de criança, as crenças ingênuas, o amor pelos outros.

Hoje a mácula de coração adulto, as idéias impregnadas de certo materialismo, o desprezo pelos homens – sádicos, hipócritas, sacripantas!

Ontem a doçura amena da infantilidade, o gesto espontâneo do virgíneo espírito.

Hoje o veneno quente da maturidade, a hipocrisia, o simulacro falso e trabalhado da perfídia d’alma.

Ontem a fantasia.

Hoje a vida como ela é ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 14/04/61

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 28/02/2010
Código do texto: T2112040
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