Amigo da Onça
Fiquei tão surpreso com o ocorrido que nem pude acreditar que aconteceu comigo.
O Chico, amigo com quem dividi um apartamento enquanto estudava na capital gaúcha, deveria ter algum rancor para comigo e naquele dia resolveu me sacanear.
Tivemos, o Chico e eu, bons e maus momentos enquanto durou nossa amizade. Mais bons do que maus momentos, até então. Jogávamos tênis juntos, saíamos para baladas e tínhamos quase o mesmo gosto pelas coisas da vida. Eu sabia que o Chico, na época com seus 32 anos, não era muito fã de trabalhar. Seu irmão , um rico empresário do ramo de representações têxteis o sustentava e isso não era novidade para mim, embora o Chico volta e meia tentava esconder e dizer que o dinheiro que o sustentava vinha de "bicos" que ele fazia na capital.
Passados dois anos, eu fui morar sozinho e o Chico permaneceu no apartamento em que morávamos.
Eu fazia curso técnico na época e trabalhava como barman em uma danceteria na capital. Tinha, na época, 25 anos.
Fazia uns quatro meses que o Chico e eu não nos falávamos.
Naquela noite de quarta-feira eu estava de foga do trabalho. O Chico apareceu lá em casa com um litro de wisky importado na mão e foi logo dizendo que aquela noite seria tudo por conta dele. Eu tinha prova no curso técnico e o Chico ficou sozinho no meu apartamento aguardando eu retornar da aula.
Quando retornei ele já havia bebido quase meio litro do wisky. Saímos em meu fusca prata, pois o Chico não tinha carro. Fomos a uma boate. Lá tomamos mais uma doses e saímos com duas moças. Ao pagar a conta, o Chico me falou que havia esquecido o dinheiro no meu apartamento. Eu sempre levava comigo um talão de cheques e tive bancar esta primeira dívida, mesmo sabendo que não havia dinheiro no banco para cobrir tal quantia. Na saída do motel a mesma situação e eu novamente tive que dar um "cheque voador".
Quando chegamos de volta ao apartamento já eram mais 6 horas da manhã. Pedi ao Chico para que me desse o dinheiro para cobrir a conta no banco. Aí que as coisas ficaram feias. O Chico simplesmente me disse que não tinha um só tostão no bolso, mas que tinha a solução para o problema: vamos na delegacia e tu diz que perdeu os documentos e o talão de cheques. Com o boletim de ocorrência tu vais ao banco e susta os cheques. Pronto, continuou ele, tá resolvido. E deu uma gargalhada dirigindo-se ao quarto em que iria dormir. Eu peguei ele pelo braço e após uma fusiosa discussão, o expulsei do meu apartamento.
Fiquei atônito e desesperado, pois minha índole não permitia que tal situação ocorresse, não comigo. Bêbado, não sonseguia pensar direito, então fui dormir um pouco. Quando acordei lá pelas 11 horas, comecei a pensar como iria sair daquela situação.
Não tive outra escolha senão conversar com o gerente do banco, que era muito amigo de meu pai. Ele aumentou o meu limite da conta especial e assim os cheques, que jutos somaram R$ 1.100,00 foram descontados sem problemas.
Demorou uns 4 meses para eu recuperar o prejuízo financeiro, mas o prejuízo emocional, este até hoje ficou abalado.
Até hoje, passados mais de 15 anos do ocorrido, tenho várias restrições a novas amizades.
Ficou a mágoa e a experiência. Ah, o Chico. Nunca mais o vi.
RobertLima