A grande conquista ...
Espaço do Rui
A grande conquista ...
Rui Batista de Albuquerque Martins
O homem já é condenado à morte no instante em que nasce. A frase é do inesquecível Dom Hélder Câmara, bispo de Olinda. E todos estaríamos vivendo de forma desesperada e inconseqüente se não tivéssemos fé e amor. Amor por nós mesmos e pelos outros. É o amor que mantém a maioria dos seres humanos em harmonia, compromissados com a vida e com a humanidade.
Quem pratica esportes radicais atinge altos níveis de produção de adrenalina, porque vive sob o fio da navalha, entre a vida e a morte. Mas não é irresponsável. O atleta necessita de emoções fortes, para atingir ou até superar os próprios limites. Por não ser irresponsável, cuida da saúde física e mental; treina, se prepara e supervisiona os equipamentos que utiliza. Airton Senna, por exemplo, examinava cuidadosamente seus veículos e caminhava pelas pistas antes de qualquer corrida, a fim de observar as irregularidades e vencer com segurança. Mas morreu por uma fatalidade. Todo pára-quedista dobra seu próprio pára-quedas, para saltar com segurança. Mesmo assim, muitos já se acidentaram ou morreram.
Curiosamente, um atleta se programa mentalmente para vencer os obstáculos e atingir seus objetivos. E essa determinação, essa força de vontade, essa garra para conquistar, é a marca dos grandes vitoriosos. Em corridas de rua - como a São Silvestre -, muitos atletas desmaiam logo após ultrapassar a chegada. Como eles atingem esse ponto? Como suportam as dores, a fadiga e arrastam um corpo que quase não se sustenta? Sem dúvida, a determinação é mais poderosa. O desejo comanda o cérebro que praticamente entra em colapso. Portanto, tenho uma visão diferente dos atletas radicais, como aqueles que disputam o Rally Paris-Dacar. São pessoas apaixonadas, que desejam viver intensamente e atingir as mais difíceis conquistas. São pessoas que procuram respeitar o próprio medo, porque é o medo que as faz refletir e adotar posturas que assegurem o sucesso.
A jornalista Rita Bragatto e o marido Eduardo Alvarenga compunham o casal perfeito. Alpinistas, queriam conquistar os mais altos pontos do mundo. Enfrentar desafios, vencer o medo e atacar os cumes das montanhas. Para, abraçados, observar os mais incríveis e belos nascimentos do Sol. Cada passo era uma vitória. Cada descoberta uma comunhão com Deus. Só eles sabiam o que representava cada aventura, cada sopro do vento num frio de dois dígitos abaixo de zero, que atravessava as roupas e fazia arder os ossos. Eles se sublimavam como seres humanos, carregando a bandeira verde-amarela e uma determinação de fazer inveja. Eles atacaram o pico do Aconcágua, a maior montanha das Américas. Superaram os limites. Foram guiados pela vontade. Ao retornar, eles sentiram a fadiga, a paralisação das pernas de Rita e viveram horas intermináveis e desesperadoras. Aconteceu a fatalidade. O frio os castigou impiedosamente. E Eduardo Francisco Alvarenga da Silva morreu como herói. Abraçado com Rita. Um queria aquecer o outro. Eles não foram irresponsáveis. Foram, sim, atletas determinados e vitoriosos. Atletas que viveram amorosamente, numa união única, abençoada por objetivos comuns.
Eduardo se imortalizou na história de todos nós. Como exemplo. E Rita Bragatto, sem dúvida, tem a certeza de que ele partiu num instante de rara felicidade, pois havia conquistado o Aconcágua, numa aventura cheia de sacrifícios, porém recheada de momentos felizes. Estamos com saudades do nosso herói e transmitimos nosso pesar às famílias Bragatto e Alvarenga. Vocês formaram um grande filho. Orgulho de Sorocaba e do Brasil.
Rui Batista de Albuquerque Martins
é jornalista e publicitário
Jornal Ipanema - 22 de janeiro de 2005
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Feliz Roda Mundo 2005
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