Havia chegado o adeus

Em memória de Glaucia

São cinco horas da madrugada imóvel. Tenho me comovido facilmente nos últimos dias desde que subistes ao brilho mais alto das estrelas. O beijo da paz das lágrimas brotam no rosto como carícia. Cinco horas sem resolução de mundo sobre a semiconsciente infância que restou na alma adulta. A primeira fase do adeus tem aspecto repulsivo de profunda recusa. A segunda revivesce no absurdo certa flor da aceitação. A terceira e última, imortaliza o adeus nos retratos e na biografia reprisada.

Criança na grama do quintal ouvia o teu chamado. Nem de longe lembrava a tia quieta no asilo em seu exílio consciente. Gostavas de cantar e me ensinavas o canto. A morte de quem nos ensinou o canto é uma dor legítima como somente a música sabe o remédio para os remorsos repisados. Em teu colo, entre palmas, eu repetia o canto adorado e preferido:

- "Estava à toa na vida, o meu amor me chamou..."

Gostavas de Chico Buarque, dos salmos, dos almanaques do pensamento, de onde tiravas enigmas e o caminho para minha instrução primária: O que é? O que é?

Num dia de poucos recursos e de fome recebi a notícia da tua ausência. Estavas ainda na cidade. Quando retornei para o mar foi para chorar sozinho como de costume em meio a imensidão. Notei que havia aprendido contigo a tua enorme solidão.

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