Um mergulho no verde

Autor: Moizéis Lima da Silva

Quarta-feira, dia 24 de fevereiro de 2010.

Dei o sinal, o ônibus parou. Subimos todos.

Continuamos conversando e encontramos uma amiga nossa, a qual se integrou à conversa rapidamente. Depois, eles passaram a roleta do ônibus e chamaram-me. Eu disse que estava indo para o terminal e que, por isso, não iria atravessar naquele momento (era por volta de três da tarde, o sol estava a pino e tinha muitas pessoas do lado de lá da roleta. Eu não iria para aquele sufoco.). Despedimo-nos.

Escorei-me no apoio dentro do ônibus e fiquei em pé. Olhei para trás e percebi que havia uma cadeira vazia. Dirigi-me ao assento. Foi nesse instante que a encontrei. Ela, com um verde olhar simpático que se entrosava com um lindo sorriso receptivo, afastou-se um pouco para que eu pudesse passar.

Sentei-me e fiquei pensando no semblante leve e gracioso que ela carregava e no quanto eu havia ficado impressionado com aquela visão inédita e diferente. Ela é única e parece que sabe disso.

A parte da frente do ônibus ficou vaga. Havia cadeiras vazias lá na frente. Primeiro ela foi e passou a roleta. Depois, eu fiz o mesmo. Ela, dessa vez, sentou-se numa cadeira à frente da minha. Fiquei a vislumbrá-la por alguns instantes: cabelos finos e leves, lábios vermelho-vivo encarnavam a imagem do mais suculento morango, tez macia que mais parecia de pêssego e uma leveza de espírito que era emanada a todos que estavam a sua volta.

De repente, veio-me uma angústia amalgamada com uma ansiedade que tomaram todo o meu ser: era o medo de perdê-la e nunca mais a encontrar. Foi quando tomei a decisão: peguei um pedaço de papel e escrevi um bilhete que, entre outras coisas, falava, mais ou menos, o seguinte: “Pelo seu olhar, suspeito que você é muito simpática, divertida e agradável. Gostaria de confirmar essa suspeita e de conhecer-te melhor”. Lá no bilhete, deixei o endereço do meu e-mail e falei onde ela poderia encontrar-me.

Quando chegamos ao terminal, desci do ônibus e fiquei esperando a saída dela. Ela saiu. Depois de vacilar um pouco, tomei coragem e entreguei o bilhete. Ela fez uma expressão de curiosidade, franziu a testa e continuou a sua caminhada.

Para a minha felicidade, coincidentemente, ela se dirigiu para a mesma plataforma que eu e, melhor ainda, ficou numa fila ao lado da minha.

Fiquei a observá-la. Ela estava com fones de ouvido, presumo, escutando músicas.

Ficamos, cada um na sua fila, aguardando a chegada dos nossos respectivos ônibus.

Nesse ínterim, fiquei a observá-la: ela tinha movimentos em câmera lenta, era o slow-motion de movimentos femininos delicados.

Infelizmente, o meu ônibus chega primeiro do que o dela. Subo, sento e ele começa a arrancar. Ao passar em frente à fila dela, tive a impressão de ela ter lançado um olhar para mim. O ônibus continua a manobra para sair do terminal e dá uma volta ao redor da nossa plataforma. Eu continuei com o meu olhar fixo nela e, antes que o ônibus saísse, eu a vi abrindo um pequeno papel e lendo. Presumo que era o meu intrépido bilhete.