O POVO TEM MEDO DO QUE
O POVO TEM MEDO DO QUE
Nascemos e crescemos
Brincamos e nos preocupamos
Multiplicamos
Alegres e tristes ficamos
Deprimidos, ansiosos
Estamos
Trabalhamos de sol a sol
Temos que ter dinheiro
Para comer, para vestir
Passear e comprar, comprar
Para fomentar nosso orgulho
Para fomentar nossa vaidade
E gritar
Eu sou o mais belo, o mais rico
O pior que às vezes nada temos e bradamos assim mesmo
Viva o orgulho
Da raça mais sábia da terra
Mas esquecemos do fim
Aí nos lembramos da morte
Essa toda a humanidade teme
É que às vezes esquecemos
E continuamos com a sabedoria de sermos sempre os melhores
De repente ela vem e para piorar
Não sabemos quando nem como
Quando nos lembramos dela deixamos de lado toda essa besteira
Lembramos que não somos nada
Insistir na sapiência seria demais
Porque ela existe, porque ela nos ameaça
Filosofam os filósofos, pregam os pastores e padres
Os monges e todo o povo religioso
Mas quem sabe?
Estou de passagem
Isso é uma viagem
Não sou daqui
Sou de onde?
Esquecemos dela por alguns instantes
Por alguns meses
Por alguns anos
Mas de uma hora para outra ela vem
A lembrança que nos faz temer
Tremer só de pensar
Se tiver muito, temo mais
Se tiver pouco, temo menos
Todos temem
O que é isso que chamamos de vida?
Porque partimos?
Vem uma dor, uma artéria meio entupida
Outra coisa qualquer e
Pá vai embora daqui
Para onde, não sabemos
Esse eu acho que é o maior medo
Pra que morrer
Que chato
Viver alegre e morrer
Viver exultante
Aí eu me pergunto para que então nascer?
A pessoa morre e dá um trabalho danado
E a morte dá emprego
Tem funerária
Tem o cemitério
Tem que pagar um monte de coisas
A família paga até para morrer
Vai todo mundo para o velório
É choro pra todo canto
Já pensou se fizéssemos festa para o morto
Aí então choraríamos por quem nasce
Seria um fardo o nascimento
Era como se alguém decretasse
Toma, cuida se vira
E não avisasse, quando morreria
É por isso que vem essa merda de depressão, de tristeza
De ansiedade, parece que é de propósito
Que vida é essa
Que ninguém fica inteiramente feliz
Quando não morre, se estrebucha todo
Dá uma bordoada de carro
Recebe uma bala achada ou perdida?
Vem uma doença dessa bem filha da...
Para arrasar a pessoa
Aí, coitada, fica sofrendo uma cacetada de tempo
Gastando o que tem e pedindo o que não tem
E no final todo mundo sabe
É ela que vem
Que sacanagem é essa agente morrer
Vou protestar
Não quero morrer
Ainda mais se tiver mesmo que voltar
Eu hem. Você quer?