Um carnaval diferente
Pois é!...
O Carnaval já passou,
E cá, novamente estou.
A tranquilidade que sonhei.
Na fazenda desfrutei.
Após um dia de viagem, saindo com calma e com os devidos cuidados, principalmente para safar das maluquices dos motoristas imprudentes – que não são poucos - cheguei, enfim, à Fazenda São Bartolomeu no interior do Estado do Rio de Janeiro. O dia estava lindo, apesar da temperatura absurdamente quente que tem feito nesses primeiros meses do ano.
Eu já conhecia a fazenda, diferentemente do meu marido que estava indo pela primeira vez. A expectativa maior, no meu caso, era conhecer a casa nova. Os familiares que já haviam estado por lá contaram, maravilhados, de como ficou linda. Pelas fotos mostradas, percebi as diferenças entre a casa velha e a nova, mas nada se compara a estar lá, ao vivo e em cores, como se costuma dizer.
Pois bem, assim que se entra na estradinha que dá acesso à fazenda, nota-se a preocupação da proprietária, minha irmã, de deixar o local bastante agradável. O caminho está forrado de brita e, margeando o percurso, os hibiscos e margaridinhas silvestres dão os primeiros toques de beleza ao local. Já se avistam ao longe muitos “boizinhos” brancos que contrastam com o verde dos pastos e o céu azul, azul. Uma bela imagem! Os tais “boizinhos” são, nada mais nada menos, que algumas centenas de gado nelore.
Minha irmã, ouvindo o barulho do carro, nos aguardava no amplo espaço da garagem. O abraço gostoso, matando a saudade do longo período que não nos víamos, emociona. Somos levados a entrar na casa por ali mesmo. Meu olhar já percorre todo o ambiente e a sensação é de que estou penetrando nas páginas de uma dessas revistas de decoração. Tudo é de um bom gosto extraordinário! Salas, quartos, cozinhas, banheiros, área de serviço: amplos e claros. Fora da casa, já na parte da frente, o visual é deslumbrante! Um lago natural, um belo jardim e uma piscina onde minhas sobrinhas, seus respectivos maridos, a ‘bonequinha’ Cacá - minha sobrinha-neta - e um jovem casal de amigos nos aguardavam também. Cris, a sobrinha caçula, nos homenageia colocando em altíssimo som, a música de César Menotti e Fabiano, “Lugar Melhor que BH”. Foi muito bacana! Alegria geral! Que bom ser recebida com amor!
A tarde seguiu seu curso enquanto colocávamos os assuntos em dia, degustando das delícias preparadas pela esposa do caseiro, uma “senhora” cozinheira. O calorão obrigava-nos a permanecer abrigados do sol e decidimos permanecer na varanda que margeia boa parte da casa. Entre mesinhas, cadeiras e até um antigo balanço em ferro fundido, peça da década de 50, pintadinho de branco e lindas almofadas em tecido estampado de azul e amarelo, foi o lugar ideal para ficarmos bem acomodados.
No dia seguinte, domingo de carnaval, logo após o café da manhã, meu marido foi convidado pelo meu cunhado para conhecer a propriedade. Enquanto isso, minha irmã e eu fomos dar um passeio ali mesmo, por perto. Percorremos o jardim, onde pude vislumbrar a beleza da flor do Gengibre; espetacular! Nunca vira uma flor tão exótica! Encantei-me com a touceira de Papiro e as várias espécies de Quaresmeiras. Passamos também pelo pomar. Carambola, Castanha-do-Pará, Amoreira, Mangueira, Jabuticabeira, o pé de Canela, a árvore de Louro, Acerola e mais diversas árvores frutíferas. Depois fomos até a horta; ao contrário do que eu imaginara, não estava bonita não, mas tem lá uma bela touceira de hortelã-pimenta e o cheiroso manjericão - branco e roxo. Voltando da caminhada encontramos os jovens se preparando para tomar banho de piscina. A moçada carioca, bronzeada, não abriu mão do sol. Brincadeiras, ora no lago, ora na piscina, divertiam bastante e preenchiam o tempo. Não dava pra fazer muitas peripécias não e o jeito era aproveitar a sombra gostosa da varanda para ler um pouco ou ficar apreciando a paisagem. Hora e meia, os boizinhos apareciam por detrás da montanha. Surgindo um ali, outro acolá, outro mais adiante, e outro e outro e outro, até que, quase sem perceber, o morro estava salpicado de branco. E comiam, e comiam e comiam. De repente, um deles resolvia voltar de onde vieram e lá iam eles, calmamente, até desaparecerem novamente. Aliado à paisagem os múltiplos sons dos passarinhos despertava a nossa atenção: trinca-ferro, sabiá, canário da terra, bem-te-vi, sanhaço, beija-flor. Uma infinidade deles e até o Tiê-sangue que eu nunca vira, aparece naquela região. É lindo! Assim, o dia transcorreu calmo, principalmente devido o forte calor.
Cai a noite. Mais uma gostosa refeição, uma noite bem dormida e o despertar cedinho, com o sol batendo gostoso na janela do meu quarto, o galo cantando mais ao longe. Levanto da cama, vou até a janela e tiro proveito do sossego. A casa ainda está em silêncio e aproveito para agradecer a Deus a oportunidade daquele momento. Peço a Ele que continue abençoando meu cunhado e minha irmã, agraciando-os com saúde e prosperidade.
Mais um desfrutar de uma farta mesa de café da manhã, mais conversa-fiada, mais banho de piscina, mais cervejinha, mais refrigerante. O calor continua firme. Minha irmã pede ajuda na cozinha. Quer que eu faça “nhoc” de aipim. “Ai, meu Deus, que responsabilidade!” Penso com meus botões. Contando com o suporte da cozinheira, ponho a mão na massa, literalmente. E amassando, agregando os ingredientes, os “travesseirinhos” vão pra panela de água fervente. O molho à bolonhesa já está pronto e vai temperando o prato. Pronto! Agora é só servir. A comilança recomeça e, sem falsa modéstia, o “nhoc” recebe elogios. Minha irmã fica feliz e eu mais ainda.
Gabi, primogênita da minha irmã, prepara a filhinha para levá-la até a cidadezinha próxima, onde acontecerá o baile infantil de carnaval. Quando a vejo fantasiada de “Emília”, do Sítio do Pica-pau Amarelo, levo até um susto! E não é que eu ia me esquecendo que estávamos em pleno carnaval? Ali, longe da barulheira da cidade, parecia que só existia aquele mundo. Até então, eu havia me desligado totalmente da minha realidade. Na brincadeira de cantar com a Cacá algumas canções de carnaval me dei conta de que no dia seguinte eu iria embora. Teria que voltar pra casa antes dos congestionamentos que normalmente acontecem nas estradas, após longos feriados. Meio que entristecida, fui arrumar as malas. O entusiasmo de antes, dera lugar à frustração do “acordar” e ter que enfrentar o meu mundinho real.
Mas foi bom! Bom não; foi ótimo! Passei um carnaval totalmente diferente dos anos anteriores. Ri, brinquei, conheci gente nova, respirei os ares da serra fluminense e aprendi mais um pouco dessa vida: que sonhos podem ser vividos sem máscaras e fantasias.
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** Todos os nomes citados são fictícios. **