O Lixeiro
A impressão era de que o cheiro, tinha se incorporado nele, como se fizesse parte do lixo. As pessoas o evitavam. Quando em serviço, pedia um copo d'água, quem o atendia procurava de todas as maneiras um copo descartável ou algo que não fizesse falta, ou simplesmente dizia não ter.
No ônibus, percebia alguns torcendo o nariz ou tampando quando perto dele estavam. Não sabia se era sua imaginação, mas se sentia excluído, a margem da sociedade, a mesma que com seu trabalho, lutava para manter limpa.
Gostava do que fazia, se acostumou a fazê-lo, achava que se não fosse por ele, ratos, baratas e moscas e toda sorte de doenças proliferaria, causando sabe se lá quanta desgraça.
Quem em sã consciência, nesta sociedade consumista, que produz toneladas de lixo por segundo, consegue imaginar a não existência do trabalho dos coletores de lixo.
Como seria possível a vida sem eles, sem o seu trabalho, esta percepção da importância do seu trabalho, para a sociedade é que faz com que levante todos os dias para trabalhar, sem se importar com os narizes tapados, os olhares desviados ou os copos d'água recusados.
Precisam dele, na verdade não vivem sem ele.