Acredito que para quem chega ao mundo sem receber instruções, sem manual, mapa, fórmula ou lâmpada mágica, até que nos saímos bem.

Aos poucos, talvez por instinto e seguindo uma lógica própria, que de lógico nada tem, vamos elaborando nossa fórmula.

Num traçado intuitivo fazemos o mapa e, a lâmpada mágica ficamos a esperar, pois já disseram que não se pode ter tudo.

 Será que não? Em alguns momentos tenho minhas dúvidas; mas só em alguns momentos.

O manual vai sendo redigido intuitivamente e com a ajuda de uma dose de bom senso.

Para isso pesamos nossos sonhos, ambições, conquistas e valores. E esses, os valores, com alguma habilidade, minimizamos e conseguimos até neutralizar a insistência daqueles que tentam violá-los.

Desenvolvemos também habilidade para saber argumentar quando da nossa boca está pronto para sair um palavrão; calar quando muitas vezes queremos gritar e lutar. Conseguimos até um autocontrole que não nos imaginávamos capazes.

E, mesmo otimistas na maior parte do tempo, às vezes, quando nos gritam verdades que não são nossas e nas quais não acreditamos, desanimamos.

E piora, pois quando ignoramos essas verdades gritadas, o silêncio alheio não hesita e nos atinge com a rejeição, deslealdade, indiferença. E dói. Dói com uma intensidade que acreditamos não suportar.

Então, resta-nos o refúgio do nosso próprio silêncio abafando vozes que não queremos e não merecem ser ouvidas.

E, em meio à mágoa e à dor, passamos a delirar com um mundo onde fosse possível ir até a farmácia da esquina e comprar autoestima em embalagens de 50 ou 100 miligramas.

Chegamos até a ouvir a voz do vendedor oferecendo uma caixa com vinte comprimidos de amor próprio com desconto para pagamento à vista.

Concordo, não é sonho, mas delírio.

Então, descobrimos também, que o paraíso não está logo ali, mas se estivesse não acredito que seria para lá padecer.

Mas, bendito “mas”, aos poucos, vencemos, pois percebemos que dói até o momento em que, distraídos da dor, passamos a ver além do silêncio.

Vemos que gritos e silêncio arrogante são argumentos dos ignorantes, que espezinham valores alheios pela divergência que fazem aos seus interesses.

São confrontos inúteis, situações que não nos trazem nada além do desgaste, rugas e cabelos brancos. Então damos as costas e fugimos.

Simples assim; fugimos do que não merece o nosso tempo que, convenhamos, é precioso. Como nossos valores.