Texto para o dia em que as canções de amor morriam.

Alexandre Menezes

Seu corpo respondia com falsos gemidos. Ora em Fá, ora em Mi sustenido. Não errava o compasso e, num monótono ritmo, usava insanas palavras para tentar demonstrar sentimentos que ali já não havia. Sempre igual, nenhuma diferença fazia.

Por maior que fosse o esforço para disfarçar pouco adiantava. Sua pulsação em nada se alterava e seu frio coração mantinha desaceleradas e constantes batidas. Nem de longe lembrava aquele amor que queimava. Muito menos a sinfonia de loucos, que nas madrugadas, causava inveja aos vizinhos quase todos os dias.

Por saber que excitava gastou todas as palavras baixas do seu espanhol. Todas pronunciadas em Mi ou Fá bemol. Era o primeiro e forte sinal de que realmente desejo não mais existia. O segundo veio em meio de gemidos e gritos em falsetes. Bem diferentes de antes quando, por alguns minutos, a voz naturalmente perdia.

No fim, ainda fingiu não ter força para o banho, conversas e abraços. Retrato de uma relação que, depois de um tempo, passou a perder a cada dia um pedaço. É fácil perceber, mas é difícil saber por que um grande amor termina.

Usam-se como desculpas variadas justificativas: um monótono cotidiano, um tubo de creme dental, medos, inseguranças, mentiras ou até mesmo porque se limpou os restos de uma noite de amor na cortina. É comum morrer sem saber a verdade e sem se preocupar com ela. Exemplo de final feliz.
Alexandre Menezes
Enviado por Alexandre Menezes em 25/02/2010
Reeditado em 31/08/2011
Código do texto: T2106249
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