INTERNET. IMPRENSA. CULTURA. CÉU OU INFERNO CULTURAL?

O que é a internet diante da instituição imprensa, da informação e da cultura?

“Massa de comunicações incontroláveis, porque individuais”; é a definição de Rosenthal Calmon Alves, brasileiro, considerado em nossos dias um dos maiores especialistas em novas tecnologias da informação mundialmente.

O professor de comunicação da Universidade do Texas, em Austin, considera ser questão de difícil definição o “jornalismo” dos blogs, e condena qualquer restrição à expressão manifestada na internet, a exemplo da pretendida intervenção contemporânea da Justiça Eleitoral. E o faz, fácil de inferir, por considerar a emanação da comunicação de cunho restrito no seu atingimento, “massa individual” de proporções reduzidíssimas em termos de alcance, diante da verdadeira massa alcançada pela imprensa, seja a “grande imprensa” ou mesmo a média.

Se conduz como John Gilmore, o primaz e reverenciado doutrinador científico da internet, para quem “a internet interpreta a censura como um defeito e o contorna”, centrando para o intérprete nessa crença, ao que entendo e depreendo, o aspecto que distingue a internet da verdadeira imprensa; liberdade de expressão vinculada ao direito individual, estatuto personalíssimo.

Procede o posicionamento, justificando-se na norma constitucional de âmbito geral, contida nas garantias da liberdade de expressão, onde se insere a comunicação, diversa do edito especifico abrigado no artigo 220 da Carta Política.

Assim, também, a mesma ferramenta que desafia cérebros privilegiados, podendo sinalizar indicativos proveitosos na aproximação dos homens, traz no seu cerne, em seu núcleo e epicentro expansionista, dúvidas até mesmo para os dotados cientistas da comunicação, aqueles que medem a influência positiva e negativa de atuação.

Na cultura, e como conseqüência na educação em geral, se temos disponibilização de meios para acesso aos verdadeiros profissionais e suas obras reconhecidas, através da internet, chega também por esse meio a deseducação em todos os níveis, lingüística, literária e informativa, quando muitos que nada são ou nada sabem, se erigem a troar para os quatro cantos ligados pela internet, “criacionices cerebrinas” e “copismos”, pior, mal feitos mesmo que contrafação; é o avestruz enterrando a cabeça e deixando o corpo de fora.

É o que se colhe da evidência dos formadores do processo probatório. Disso tudo nos fala Mark Bauerlein em “A Geração Mais Burra”, livro baseado em várias pesquisas de órgãos, consultorias e instituições educacionais americanas, que reflete padrão mundial, chegando o livro à óbvia conclusão, que desfila em nossa frente nos sites e na internet em geral, de que um contingente de jovens e adultos que “não lê, não acredita no trabalho, não visita museus e outras instituições culturais e sequer consegue explicar métodos científicos básicos ou saber algo de história”, é a massa freqüentadora da internet, diz o livro.

Acresço: mesmo se situarmos o “algo de história” no primário que ninguém, pretendendo opinar ou se externar, deveria desconhecer.

Mas Bauerlein vai mais fundo, se confessa atemorizado com o que tem origem, via internet, “nos antros do crime e nos claustros da doença de dependentes de todas as drogas, desde o álcool, às quimicas e drogas pesadas”, como refere, inserindo o indiscutível fator que já indiquei em outros espaços; identidades desconhecidas e patológicas, que não se aceitam a si mesmas e punem a todos em desvios de personalidade.

Consuma-se a visibilidade aliada à vida dependente da tela, condicionada e exausta, os famosos “quinze minutos de fama” para qualquer um como valor positivo.

Como creem alguns, acontece na internet o que podemos chamar de “cantinho de fama de meia-dúzia” (os quinze minutos de fama genéricos), seu nome em uma tela, embora sem nenhum reconhecimento, imagem festejada da era da eletricidade, tudo com o lado sombrio e indecifrável em termos de futuro, com enorme prejuízo para a cultura institucional. A didática do erro.

É mais um doar-se “a entreter-se uns aos outros” (benefício pessoal e perda cultural para muitos), como refere Mark Bauerlein, aditando que noventa por cento iniciam pesquisa por busca de uma ferramenta em vez de ir a um site de biblioteca, por exemplo.

Quando há pesquisa de livros e bibliotecas não ficam mais que oito minutos, demonstra a estatística lastimavelmente.

Profissionais do ensino brasileiro se preocupam com essas constatações, sinalizadoras de que se a internet serve como origem valiosa de informação, desserve pela desorganização intrínseca que resulta em convulsão educacional, não incentivando o espírito crítico, nem mesmo àqueles com alguma formação.

Não há academia que provoque a dialética, fica-se mudo e foge-se ao debate instaurado se não há motivação lúdica, muito menos preparo para enfrentamento, principalmente nos espaços da internet silentes de debate.

Diversamente a imprensa, por sua vez, a real imprensa, a grande imprensa, o jornalismo formador de opinião dos que recepcionam devidamente o fato e seus contornos, leva o leitor ao espírito crítico através de articulistas de vasto conteúdo, impulsionando a crítica e auxiliando a educação, movimentando o ensino geral, o pensamento culto.

O silêncio crítico a que alguns se entregam, freqüente na internet, por falta de condições de elaboração do pensamento ou nos sites “mudos de debate”, susta o desenvolvimento das conquistas maiores do intelecto, faz apagar cada vez mais a já pouca percepção, deforma o entendimento e barra qualquer possibilidade de chegar-se à compreensão, justificando o título do livro de Mark Bauerlein.

São siderações da verdade da qual não há como se afastar. Para a maioria - não há amanhecer para o trabalho que ilustra, que deve antecipar-se ao amanhecer do dia ou mergulhar na noite, debruçado sobre livros (não na tela nem imagem) – ressai dessa mecânica somente troca do “entreter-se uns aos outros” como afirma Bauerlein, e isso basta. A característica perseguida é o conhecimento descartável ao lado do prazer lúdico da condicionante da imagem.

Trata-se de experiência sem construção racional, que leva à falta de assertividade e retira a possibilidade de elaborar processo crítico desdobrado para fechamento, enriquecendo o conhecimento. Desse pretende-se pouco, nem mesmo o curial, resta apenas o “entreter-se”, momentoso, que trava o espírito e ensombra o discernimento consciente, enfim, presta-se a “máquina” para formar a “Geração Burra” de que nos fala Bauerlein, quando outras já maduras, usam o meio para impulsionar novas gerações com as mesmas características, ao invés de reformá-las.

Assim, não se pode ainda falar em jornalismo na internet, excluída a grande imprensa, migrada em menores espaços para a tela somente em breves noticiosos e, muito menos em informação ou cultura, esta formalizada sempre em livros, caminhando “pela rama” neste penetrante veículo a possibilidade de melhorar a cultura que informa e faz crescer.

Quando poderíamos ter o céu como cultura diante de tão poderosa “ferramenta”, temos em parte o inferno cultural. O grande lado positivo é a aproximação do ser humano, essa a grande conquista, aliada à razoável aproximação das letras, pois a imagem seduz como demonstra a história.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 25/02/2010
Código do texto: T2106186
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