Baile de máscaras
Hoje é dia de baile. Preparar a roupa. Sentir o humor. Escolher a máscara. Não é sexta-feira, nem sábado. O espelho só reflete cansaço. O travesseiro carência. O peito tá pálido. Quero ir à Veneza. Sair desse apartamento. Do quarto alugado. Sim. Vestir cores de sonhos e rosto de porcelana. Ser outra. Ser outro. Ser eu. Tirar a máscara diária que me protege da predação social. Lançar-me em outra dimensão. De veludo ou cetim. No meu guarda-roupa de desejos desfilam inúmeras fantasias. Qual escolherei agora? Talvez Pierrot apaixonado. Não. Estou muito frágil. Ah...Carente Dourado? Não sei. Pandora? Escritor? Detetive? Fada azul? Dama vermelha? Valete de Paus? Nobre? Plebéia? Tesuda? Teseu? Vou de Bauta ou Tabarro? Hoje quem serei? Todas sou eu. Anônima. É meia-noite. A madrugada breve. Muitos já estão na festa. Basta um clique. Um nick. Um pc. Um modem. Uma cadeira. Uma configuração. Um desejo de comunicação e uma fantasia contendo tantas outras. Hoje é dia de baile dos mascarados. Livre, para quem quiser. Personas. Catarse. Passearei à pé pelos cafés Florian e Quadri na Praça de San Marco. Fantasiada pegarei a gôdola e o vaporetti. Descortinarei Veneza, seu carnaval de mistérios, sublimando todos os recalques e fortalecendo o ego. Vou interagir com os outros mascarados, que assim como eu guardam seus defeitos, apresentam seus encantos. Lá vou. Apagar a realidade. Por mais uma madrugada bailar meus dedos sobre teclados de sonhos, de vontades. Tecendo discursos de magia. Lançando em sua tela meu rosto mascarado. Fitando o seu, suar nas entrelinhas. Acelerar. Pausar. Pulsar nas vielas virtuais. Rodopiar minhas emoções. Quer dançar comigo?