UM TELEFONEMA ESPECIAL
Quinta feira a noite, véspera de carnaval, eu chego em casa, tomo banho, troco de roupa e me sento para jantar. Como de costume, pego o celular e vou desligá-lo. Sim, sempre que chego em casa, desligo o celular. Algumas pessoas podem até me recriminar por isso, dizendo que esse ato é irracional, pois o celular faz parte do nosso dia-a-dia, que se alguém quiser entrar em contato conosco não vai conseguir, etc., etc.
Até concordo, mas tenho argumentos plausíveis para rebater essas “teorias”. Em primeiro lugar, se alguém quiser falar comigo (e for, de verdade, meu amigo, ou se o assunto for de urgência), simplesmente, essa pessoa liga para a minha residência. Portanto, não se faz necessário celular ligado. Segundo, eu acho incômodo esse aparelho. Uso porque a modernidade nos impõe essa tecnologia e dela, infelizmente, dependemos quase que por vinte e quatro horas - não eu. Dentro de casa, ele sempre está desligado.
Pois bem. Quando eu peguei o celular para desligá-lo, a minha esposa me chamou à cozinha. Não querendo deixá-la esperando, soltei o celular – ligado –, e fui saber o que ela queria. Era para trocar o garrafão de água mineral. Com isso, acabei por esquecer-me de voltar à mesa, onde estava antes e, com isso, desligar o bendito celular. Bendito mesmo.
Jantar posto, eu passei a saborear o tempero gostoso da minha patroa. No meio da refeição noturna, o som característico de uma chamada de celular se fez ouvir. Minha esposa, sabendo que eu não gosto de me levantar da mesa enquanto estou me servindo, se levanta e vai atender a chamada. Claro que a chamada era para mim. E era de uma pessoa, muito especial, que estava me ligando pela primeira vez: o meu amigo e escritor Obery Rodrigues.
Que prazer falar com ele! Senti-me privilegiado por receber aquela ligação. A sua voz, mansa e pausada, falou sobre a sua determinação de continuar com os seus projetos literários, de voltar a escrever suas crônicas para um periódico diário, da alegria de estar recebendo, dos quatros cantos do país, e-mails, solicitando o seu último livro “Crônicas Anacrônicas”, enfim, parecia o jovem Obery dos tempos do Cine-Teatro Almeida Castro (“Minhas lembranças de Mossoró” – que oportunamente comentarei), empolgado e feliz por saber-se lido e elogiado, merecidamente, por sua obra.
Confesso que quase nada disse. Apenas ouvi o mestre falar. Falou-me sobre o desejo de conhecer-me pessoalmente (sou eu quem faço questão de conhecê-lo pessoalmente, Obery, pois, literariamente, a minha amizade por você já se solidificou faz tempo!) e, não será preciso o caro amigo vir a Mossoró – se bem que, se for por esta época, com certeza, você terá o prazer de ver e ouvir “as abençoadas chuvas de Mossoró” –, mas eu faço questão de, em estando de passagem por Natal, convidá-lo para um encontro no shopping, de preferência, na livraria Siciliano e, lá, tomarmos um café, sem pressa de vermos o tempo correr suas horas.
E o escritor continuou a falar. Eu, como bom aprendiz - que procuro ser, sempre -, continuei a ouvi-lo, apenas interrompendo-o quando era solicitado a responder alguma coisa. Falou-me, ainda, que estava indo passar o período carnavalesco na praia, e que estava chateado por não ter recebido, ainda, o livro que eu havia lhe enviado, pois ele pretendia levá-lo para ler nos dias em que estivesse por lá. Enquanto ele falava, as minhas imagens iam percorrendo páginas de uma crônica sua, do livro “Crônicas Anacrônicas”, sobre o seu hábito de ligar, todas as tardes, para a portaria de seu prédio, para saber se havia chegado encomenda.
No final, outra chateação: o livro “Lembranças de Mossoró” que ele havia me enviado, pelo correio, também não havia chegado aqui em casa. Disse-lhe, para deixá-lo sossegado, que, ultimamente, o serviço de correio, que passa na minha rua, demora, no mínimo, de quinze a vinte um dias, após a entrega ter sido feita no seu destino de origem.
Por fim, nos despedimos. Desejei ao mestre um bom carnaval, na praia, junto aos seus e recebi os meus desejos. Ao desligar o celular, uma sensação boa tomou conta de mim.
Nota do autor: Sábado pela manhã, o livro chegou aqui em casa. Imediatamente, liguei para Obery. Do outro lado, uma voz - depois de receber a notícia -, aliviada. E, também, com uma boa notícia: o livro que lhe enviei chegara ao anoitecer do dia anterior.
Obs. Imagem da internetQuinta feira a noite, véspera de carnaval, eu chego em casa, tomo banho, troco de roupa e me sento para jantar. Como de costume, pego o celular e vou desligá-lo. Sim, sempre que chego em casa, desligo o celular. Algumas pessoas podem até me recriminar por isso, dizendo que esse ato é irracional, pois o celular faz parte do nosso dia-a-dia, que se alguém quiser entrar em contato conosco não vai conseguir, etc., etc.
Até concordo, mas tenho argumentos plausíveis para rebater essas “teorias”. Em primeiro lugar, se alguém quiser falar comigo (e for, de verdade, meu amigo, ou se o assunto for de urgência), simplesmente, essa pessoa liga para a minha residência. Portanto, não se faz necessário celular ligado. Segundo, eu acho incômodo esse aparelho. Uso porque a modernidade nos impõe essa tecnologia e dela, infelizmente, dependemos quase que por vinte e quatro horas - não eu. Dentro de casa, ele sempre está desligado.
Pois bem. Quando eu peguei o celular para desligá-lo, a minha esposa me chamou à cozinha. Não querendo deixá-la esperando, soltei o celular – ligado –, e fui saber o que ela queria. Era para trocar o garrafão de água mineral. Com isso, acabei por esquecer-me de voltar à mesa, onde estava antes e, com isso, desligar o bendito celular. Bendito mesmo.
Jantar posto, eu passei a saborear o tempero gostoso da minha patroa. No meio da refeição noturna, o som característico de uma chamada de celular se fez ouvir. Minha esposa, sabendo que eu não gosto de me levantar da mesa enquanto estou me servindo, se levanta e vai atender a chamada. Claro que a chamada era para mim. E era de uma pessoa, muito especial, que estava me ligando pela primeira vez: o meu amigo e escritor Obery Rodrigues.
Que prazer falar com ele! Senti-me privilegiado por receber aquela ligação. A sua voz, mansa e pausada, falou sobre a sua determinação de continuar com os seus projetos literários, de voltar a escrever suas crônicas para um periódico diário, da alegria de estar recebendo, dos quatros cantos do país, e-mails, solicitando o seu último livro “Crônicas Anacrônicas”, enfim, parecia o jovem Obery dos tempos do Cine-Teatro Almeida Castro (“Minhas lembranças de Mossoró” – que oportunamente comentarei), empolgado e feliz por saber-se lido e elogiado, merecidamente, por sua obra.
Confesso que quase nada disse. Apenas ouvi o mestre falar. Falou-me sobre o desejo de conhecer-me pessoalmente (sou eu quem faço questão de conhecê-lo pessoalmente, Obery, pois, literariamente, a minha amizade por você já se solidificou faz tempo!) e, não será preciso o caro amigo vir a Mossoró – se bem que, se for por esta época, com certeza, você terá o prazer de ver e ouvir “as abençoadas chuvas de Mossoró” –, mas eu faço questão de, em estando de passagem por Natal, convidá-lo para um encontro no shopping, de preferência, na livraria Siciliano e, lá, tomarmos um café, sem pressa de vermos o tempo correr suas horas.
E o escritor continuou a falar. Eu, como bom aprendiz - que procuro ser, sempre -, continuei a ouvi-lo, apenas interrompendo-o quando era solicitado a responder alguma coisa. Falou-me, ainda, que estava indo passar o período carnavalesco na praia, e que estava chateado por não ter recebido, ainda, o livro que eu havia lhe enviado, pois ele pretendia levá-lo para ler nos dias em que estivesse por lá. Enquanto ele falava, as minhas imagens iam percorrendo páginas de uma crônica sua, do livro “Crônicas Anacrônicas”, sobre o seu hábito de ligar, todas as tardes, para a portaria de seu prédio, para saber se havia chegado encomenda.
No final, outra chateação: o livro “Lembranças de Mossoró” que ele havia me enviado, pelo correio, também não havia chegado aqui em casa. Disse-lhe, para deixá-lo sossegado, que, ultimamente, o serviço de correio, que passa na minha rua, demora, no mínimo, de quinze a vinte um dias, após a entrega ter sido feita no seu destino de origem.
Por fim, nos despedimos. Desejei ao mestre um bom carnaval, na praia, junto aos seus e recebi os meus desejos. Ao desligar o celular, uma sensação boa tomou conta de mim.
Nota do autor: Sábado pela manhã, o livro chegou aqui em casa. Imediatamente, liguei para Obery. Do outro lado, uma voz - depois de receber a notícia -, aliviada. E, também, com uma boa notícia: o livro que lhe enviei chegara ao anoitecer do dia anterior.