A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO
“A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo”
(Olavo Bilac)
Ah! Meu querido Olavo, se já existisse aquela tão almejada “máquina do tempo”e se voltasses, acho que terias que rever teus conceitos. Não acredito que persistirias nessa idéia pois acredito que ao pronunciares essa sentença, nossa Pátria ainda estava longe da miscigenação verbal que se propagou e ainda se reproduz.
Com o advento da Internet e suas ramificações, cada vez mais são criados novos hieróglifos – alguns de dar inveja aos escribas pré-históricos.
Então, meu caro Olavo, deves reconhecer que estás errado e que nada mudou depois do teu soneto “Última Flor do Lácio”, pois juntando as corruptelas dos escravos e indígenas com dialetos colhidos dos imigrantes das várias nacionalidades e os regionalismos de um país tão diversificado, como o Brasil, mais
os galicismos, americanismos e outros ismos, acrescentando o dialeto “internetês”, nossa Flor do Lácio transformou-se numa Babel descomunal.
Misturam-se os pronomes e o Vossa Mercê da tua época ficou sendo “você” e desbancou o velho “tu” que perde-se no vocabulário dos jovens que não sabem como conjugar os verbos na segunda pessoa do singular(muito menos do plural). Fica, então, para os puristas aquele constrangimento ao ouvir:
- se você quiser, eu te levo...
Ou:
- eu disse prá senhora que tu tem que fazer isso...
E outras barbaridades do gênero.
E, meu querido poeta. As coisas mudaram muito e a Pátria adota um idioma e um povo que está longe daquele que deveria caracterizar os teus preceitos.
É bom que tenhas partido com essa ilusão.
Um abraço, meu poeta e continua conversando com as estrelas.