Big B.... Brasil o que Pouca Gente Viu

Jorge Linhaça

Tenho acompanhado o BBB e à cada dia o Bial solta uma nova pérola da coroa sobre o programa:

Um dia destes chamou de demagogos aos que não consideram heróis os "enclausurados".

É bastante interessante chamar de clausura ou confinamento o convívio Classe Média Alta da tal casa.

Piscina,academia, comida à vontade...prêmios semanais como carros e motos...etc

Creio que milhões de brasileiros gostariam de estar nessa colônia de férias só para desfrutar um pouco

das mordomias que os participantes recebem durante esses três meses de programa.

Quanto a ser demagogo, creio que o Bial carece de um dicionário para compreender o significado da palavra.

Ser demagogo é exatamente fazer o que ele faz a cada intervenção televisiva.

Demagogia é conduzir o povo a uma falsa situação. Em termos etimológicos provém do Grego, querendo dizer "a arte de conduzir o povo".

Dizer ou propor algo que não pode ser posto em prática, apenas com o intuito de obter um benefício ou compensação.

No nosso contexto atual, está muito associado ao mundo da política e a promessas de "mundos e fundos", que depois na prática não se concretizam.

Dizem os manuais que o demagogo, na sua expressão grega primitiva, era apenas o chefe ou condutor do povo, sem qualquer sentido pejorativo, e, como tal, se qualificavam Sólon ou Demóstenes, intimamente ligados à defesa da democracia. Contudo, a expressão sofreu uma evolução semântica, deixando de ser uma arte neutral, principalmente depois da morte de Péricles, em 429 a.C., quando surgiram novos líderes, não ligados às antigas famílias, os quais, a partir do século seguinte, começaram a ser fortemente criticados pelos adversários dos modelos democráticos. Por causa disso é que a expressão ganhou a atual conotação: aquele que procura dar voz aos medos e aos preconceitos do povo. Ou, para seguir as palavras de Bertrand de Jouvenel: a arte de conduzir habilmente as pessoas ao objetivo desejado, utilizando os seus conceitos de bem, mesmo quando lhes são contrários.

Oras, o que o ilustre Bial faz é exatamente isso, com a ilusória promessa de que "qualquer pessoa" pode participar do BBB e ganhar prêmios, chama a todos os participantes de heróis.

Cria a aura de redenção sobre cada um deles como se participar do BBB fosse, em si, fruto de um grande esforço realizado ao longo da vida pelos participantes.

É mais uma maneira de fazer crer que na vida tudo vem de maneira fácil, que a fama efêmera vale mais do que o que se contrói ao longo de uma vida guardando-se os valores pessoais de cada um.

Diversificar a fauna desta décima edição foi apenas mais uma maneira de manipular o povo. Não sei se quem acompanha o programa já reparou que os " coloridos" jamais são votados pela casa, com exceção da Angélica Morango...claro que isso faz parte do jogo pois, com a inversão dos valores a que a sociedade está sujeita, eliminar um "gay" nas primeiras semanas de programa poderia cheirar a homofobia, então os demais participantes ( por recomendação da Globo ou não ) votam apenas nos heteros para o paredão.

Não me entendam mal, não vai aqui nenhuma dose de homofobia, o que ocorre é que a busca de direitos iguais pelas minorias ( sejam elas quais forem ) acabam por criar uma condição inversa, onde seus direitos são mais respeitados do que os dos demais.

( Voces conhecem alguma lei, por exemplo, que permita a alguém processar outra pessoa por que esta o chamou de branquelo?

Conhecem algum caso em que determinada pessoa processou a empresa por haver sido demitido, alegando que a demissão se deu por ele ser heterossexual? )

A eliminação do Uiliam ( único afro descendente assumido desta edição ) já gerou, na Bahia, acaloradas discussões sobre a sua eliminação, não faltou quem alegasse que o mesmo foi eliminado por ser negro e nordestino.

Claro que sempre existirá o famoso jogo de cena, onde um ou outro colorido receberá votos ocasionais, afinal é preciso iludir o povo para dar a impressão de que as cartas não estão marcadas.

Aliás, eu gostaria de saber quem, se é que existe isso, audita os votos dados a cada paredão...

Será que quem sai é quem foi realmente mais votado pela população ou será que sai quem as pesquisas de opinião da globo consideram que dá menos ibope, independente dos votos auferidos?

Se o programa serve para estudar o comportamento humano eu não sei...pois muitas vezes me parece que o mesmo segue um roteiro pré-estabelecido, como uma novela escrita para ter suas reviravoltas de acordo com as pesquisas feitas junto ao público.

No início desta edição pareceu que finalmente algumas pessoas mais inteligentes ( a tribo dos cabeças) poderiam dar uma nova dinâmica ao jogo, no entanto após alguns programas as tribos foram simplesmente "extintas" talvez por que estivesse ficando clara demais a proteção à tribo dos coloridos.

Dos "cabeças" nem sei se existe algum remanescente, mas o advogado e a mestra de linguística foram detonados quase que em sequência, mais uma vez demonstrando que o programa existe não para ser um jogo de estratégia mas sim um simulacro das relações de baladeiros de todas as espécies.

Nas busca pela audiência televisiva vale tudo e, para o povo, para quem a cultura resume-se à música e à dança, o BBB mexe com as lombrigas de todos que se colocam imaginariamente dentro da tal casa, no papel de fulano ou beltrano, de acordo com as suas afinidades.

É como torcer para um time de futebol ser campeão, com a diferença de que se pode mudar a preferência conforme este ou aquele vão caindo fora do jogo.

Como este é um ano eleitoral, o BBB deveria ter convidado a Dilma, o Serra, o Ciro, o Garotinho, o Alkiminn etc para participarem do programa, ia ser bem interessante ver o comportamento

dessas ilustres celebridades dentro da " casa mais famosa do Brasil" Poderiamos acompanhar em tempo real os conchavos e intrigas de nossos políticos, bem como os bate bocas que aconteceriam, livres do tal decoro parlamentar...

Resta saber se os ilustres políticos conseguiriam articular algum pensamento sem ajuda dos marqueteiros e assessores que escrevem seus discursos...

Jorge Linhaça