KARAMURU

Na região do Recôncavo Baiano (aquela região em forma de cuia que se dobra sobre a baía de Todos os Santos) só havia grupos Tupinambá na época em que os portugueses encontraram o Brasil. Karamuru (Diogo Álvares Correia), quando naufragou nas costas de Salvador (Oceano Atlântico, portanto em mar aberto), foi chegar à Praia da Mariquita, onde hoje é o bairro do Rio Vermelho. O povo que lá vivia era o mesmo que ocupava a região onde foi construída a Vila Velha (hoje, bairro da Graça) e perto do local onde Thomé de Souza desembarcou (hoje, PraIa do Porto da Barra).

Segundo conta a história, Diogo Álvares Correia veio numa embarcação francesa para saquear a nossa "ybyrapitanga" (madeira vermelha) entre os anos de 1509 e 1511. Para não ser devorado pelos índios, conseguiu dar um tiro doe arcabuz para o alto, assustando-os, conseguindo assim se tornar respeitado pela população que o acolheu e o apelidou Karamuru (nome dado ao peixe elétrico) por ele ter vindo das pedras, todo coberto de algas e pelo fogo de sua "mbokaba" (espingarda). Conseguiu o respeito do "mborubixaba" (chefe) e tomou a sua filha Paragûasú como esposa. Paragûasú, ficou conhecida pelos portugueses (que chegaram posteriormente) por Catarina Paraguasu e mais tarde foi batizada na França como Catarina do Brasil.

Com o tempo, Karamuru se tornou grande conhecedor do abanhe’enga, servindo de intérprete para tantos quantos viessem saquear a “madeira cor de brasa”, sejam franceses, ingleses, como também para os portugueses colonizadores. Portanto, quando os portugueses começaram realmente a se interessar pela colônia, Karamuru passou a ser o elo entre esses e os nativos, assim como sempre o fora entre os nativos e os espanhóis, franceses e quaisquer piratas que vinham saquear o nosso pau-brasil.

Segundo alguns autores, Karamuru foi pouco reconhecido pelos portugueses por sua postura em defesa dos interesses dos indígenas e também dos franceses, para quem anteriormente trabalhava. Assim, por ter ajudado também aos salteadores das “riquezas da colônia”, Karamuru foi relegado a um segundo plano pela História do Brasil.

O outro lado da baía de Todos os Santos (Ilha de Itaparica, Salinas da Margarida) era habitado pelos Abaporú (comedores de gente), também Tupinambá como as demais nações da região.

Quando Cabral chegou às costas da Bahia (Abrolhos, Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro) se deparou com os Tupinikim, falantes também do abánhe’enga, e não com os Pataxó, como se pensa. Esses outros eram falantes de línguas do grupo Macro-jê, como os seus parentes Aymoré (Guaymoré) ou Gerén. Com a miscigenação, escravidão e extermínio dos Tupinikim da região, o povo Pataxó foi se aproximando do litoral, onde estão até hoje.

A família de Karamuru passou a ser a primeira família brasileira e seus descendentes passaram a ocupar lugar de destaque na sociedade baiana.