Histórias de Hospital: Marley e eu

Era uma manhã de sol na 5ª Enfermaria. Estava no quarto aguardando o término da medicação e lendo Marley e eu.

Sai do quarto e ao passar pelo corredor cumprimentei o senhor Liberato que curiosamente interessou-se pelo livro que eu carregava nas mãos.

Conversamos um pouco e perguntei-lhe se poderia ler um trecho do livro e ele sem hesitar respondeu que sim. Neste momento iniciei a leitura:

- “Naquele fim de semana, fiz uma longa caminhada pelo bosque e, quando cheguei ao trabalho na segunda-feira, eu sabia o que queria dizer sobre o cão que tocara minha vida, aquele que eu nunca iria esquecer. Comecei a coluna descrevendo minha caminhada pela colina com a pá ao amanhecer, dizendo como era estranho andar ao ar livre sem Marley que, durante treze anos, se determinara a estar ao meu lado sempre que eu saísse. E agora ali estava eu, sozinho, escrevi, abrindo uma cova para enterrá-lo. Jamais haverá outro cão como Marley. Pensei muito em como descrevê-lo, e foi isto que resolvi dizer: Ele foi o único cão que conheci que foi expulso da escola de adestramento. E continuei: Marley mastigava almofadas, destruía telas, babava e revirava latas de lixo. Quanto à sua mente, vamos apenas dizer que ele perseguiu seu rabo até o dia em que morreu, aparentemente convencido de que estava a ponto de realizar um grande feito canino. O que eu realmente queria contar era como este animal tocara nossas almas e nos ensinara algumas das lições mais importantes de nossas vidas. Uma pessoa pode aprender muito com um cão, mesmo com um cão maluco como o nosso, escrevi. Marley me ensinou a viver cada dia com alegria e exuberância desenfreadas, aproveitar cada momento e seguir o que diz o coração. Ele me ensinou a apreciar coisas simples, um passeio pelo bosque, uma neve recém-caída e uma soneca sol o sol de inverno. E enquanto envelhecia e adoecia, ensinou-me a manter o otimismo diante da adversidade. Principalmente, ele me ensinou sobre a amizade e o altruísmo e, acima de tudo, sobre lealdade incondicional. Um cão não precisa de carros modernos, palacetes ou roupas de grife. Símbolos de status não significam nada para ele. Um pedaço de madeira encontrado na praia serve. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, educado ou analfabeto, inteligente ou burro. Se você lhe der seu coração, ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não.”

Olhei para o senhor Liberato e ele estava chorando.

Emocionada perguntei:

- O que aconteceu?

- É que... Lembrei de um cachorro que eu tive!

Choramos e rimos. Aquela manhã de sol na 5ª Enfermaria teve um momento de conforto para nossas almas.

Possivelmente, quando John Grogan escreveu Marley e eu, não imaginava que em algum lugar do mundo, mais propriamente em uma manhã de sol na Enfermaria de um hospital, dois pacientes por um breve momento esqueceriam a situação atual por causa de Marley.

Esse foi um momento muito especial e ficou registrado em minha memória.

Entretanto, nunca pensei ouvir em minha cidade tanta crueldade contra os animais. É lastimável e digno de tamanha indignação perceber o quanto o ser humano está afastando-se da imagem e semelhança do criador. Ah! Se todos os homens fossem merecedores da vida!

Luciana Soares
Enviado por Luciana Soares em 19/02/2010
Reeditado em 24/01/2013
Código do texto: T2096377
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