Texto para o dia de um amor covarde e recíproco.
Alexandre Menezes
A pronúncia de que um dia o amou soou num desabafo aliviador para ela. O segredo ou sonho, de quando menina, acabava de ser revelado. Havia desperdiçado grande parte da sua adolescência chorando ou com os ensaios das declarações de amor nunca realizadas.
Sua enorme timidez e medo de uma decepção a tirava, no passado, toda a coragem e a afastava daquele que desejava. Anos depois e, naquela situação, parecia não acreditar está diante de uma conversa tão franca. Era uma revelação necessária.
Imediatamente, após ouvir o que ela tinha para dizer, seus olhos encheram de lágrimas. Ele sempre teve por ela os mesmo sentimentos, porém não estava aliviado. Bem diferente, o que guardava em segredo, era mais forte a cada dia. Nunca aproximou-se para conquistá-la por se achar desigual. Não tinham os mesmos amigos. Não freqüentavam os mesmos lugares.
Viveu escondido e agarrado ao medo de nunca obter sua atenção, mas não teve a certeza. Ela, da mesma forma, preferiu não viver por suas dúvidas e insegurança. Preferiram deixar por conta do tempo e suas resoluções. A falta de atitude e comunicação os separaram. Perderam festas, passeios e, no último dia antes do reencontro, formaram juntos desperdiçando uma linda valsa. Mal houve apertos de mãos.
Apresentando um carinho inesperado para tão pouca intimidade, ela, trouxe vagarosamente a cabeça dele até o seu colo. Passava levemente seus dedos entre os cabelos e secava as lágrimas sem mais o alívio de antes. Queria fazer aquela tristeza acabar.
Ao ouvi-la perguntar porque chorava nada conseguiu responder. Parecia acreditar que era sonho qualquer palavra dita por aquela voz macia. Refletia calado sobre a oportunidade perdida, afinal, ela também o amou. Enquanto relembrava a afirmação de certeza de um sentimento já acabado chorava por saber que para ele não era bem assim.
Engoliu o choro e revelou que sempre a amou e que o sentimento nunca havia acabado. De forma meio engasgada revelou os motivos que o levaram, até então, não dizer o que sentia. Calou e passou apenas a observar aquele lindo rosto angelical que parecia perplexo. Então, ao se olharem nos olhos, pela primeira vez choraram juntos.
Logo em seguida ele a abraçou. As lágrimas que molhavam os rostos, roupas e o chão se confundiam, misturavam. Estavam em público e chamavam a atenção de quem por ali passava ou estava. Tímidos como sempre, saíram abraçados entre lágrimas e doces sorrisos. Não pensavam no passado. Não pensavam no futuro. Não pensavam em nada.
Seguiram sem direção certa com braços transpassados que se revezavam entre ombros e cinturas. Não tinham nenhum objetivo em mente. Tinham um caminho longo pela frente e uma história mal resolvida. Lágrimas e sorrisos, verdades e omissões, carinho e respeito. Tudo estava misturado e, principalmente, as dúvidas.