Evolução.
 
Frequentemente eu recebo e-mails de leitores comentando meus textos. Alguns concordam, outros discordam já muitos complementam e ampliam o debate sobre os assuntos que proponho semanalmente. Fico feliz com essa interação, pois sempre me proporciona aprendizados e pontos de vista diferençados. Essa interação é muito saudável e me oportuniza maior crescimento pessoal. Em muitos dos temas utilizo a palavra evolução para me referir à mudança ou a um estágio superior mais próximo da felicidade.
No entanto, a evolução nem sempre significa crescimento e transformação para melhor, pode também significar melhor adaptação ao meio e, portanto, melhor condicionamento para sobreviver no ambiente em que habitamos. Esse é o sentido tradicionalmente atribuído à evolução das espécies, ou seja, a sobrevivência do mais apto, segundo a teoria de Darwin. Embora os estudiosos digam que Charles Darwim preferia a palavra transformação, raramente utilizava a palavra evolução e quando a utilizava era para referir-se a mudança.
 Quando me refiro às pessoas sempre associo evolução com progresso, avanço e especialmente com a melhoria do autoconhecimento. Esse raciocínio não é impertinente, porém pode ter sido contaminado por associações indevidas, afinal, cresci ouvindo sermões, parábolas e textos que se referiam aos mestres e todos os iluminados como seres que pregavam no alto do monte, que subiram montanhas e encontraram o verdadeiro sentido de suas vidas. Por outro lado, os infelizes, os desencaminhados são sempre representados como seres percorrendo os vales, imersos em angústias e sofrimento.
Quando um leitor me propõe olhar a evolução como sendo algo que pode não significar melhoria, imediatamente percebo que estou sendo influenciado pela inconsciência coletiva e num salto tomo consciência desta verdade. Com a consciência desperta, começaram a surgir muitas provas de que evolução pode ser interpretada como sendo algo negativo; que uma simples depressão pode evoluir para um suicídio; pequenos problemas podem nos roubar o sossego ou mesmo um câncer nos privar da vida.
Esse tipo de alteração de percepção não muda os fatos, mas muda a realidade pessoal. Quando a interpretação dos fatos passa a ser outra, tudo muda de sentido e consequentemente interfere no bem estar individual, no equilíbrio pessoal. Acreditar que somos seres em constante transformação para alcançarmos estágios melhores, mais adequados a uma vida feliz é fundamental para avançar no autoconhecimento, porém precisamos aceitar que temos uma parte animal que nos empurra a fazer coisas que prejudicam a própria sobrevivência, a exemplo do descaso com o sofrimento alheio e a preservação da natureza.
Compreender os demônios que nos infernizam e harmonizá-los com os anjos que habitam em nós é uma tarefa que nos faz crescer e nos transforma em pessoas melhores. Não dá para matar os demônios sem destruir os anjos é preciso conviver equilibradamente com os dois, uma vez que a felicidade tem um sabor todo especial quando conquistada pela superação de uma dificuldade. Intercalar momentos de felicidade é saudável para poder desfrutá-la com prazer, pois se a felicidade fosse continua seria muito cansativa e deixaria de ser felicidade já que se tornaria uma rotina.
A física quântica veio nos mostrar que sempre existem infinitas possibilidades, assim a evolução tem e teve sempre infinitos significados, porém, vale o que aceitamos como sendo o certo, e isso passa a definir nosso comportamento diante da vida. Com o tempo, esquecemos que as situações mudam e o que servia para um determinado momento ou situação pode não mais servir, obrigando-nos a reinterpretar os fatos constantemente. Contudo, somos resistentes à mudança e evitamos até mesmo a possibilidade de considerar que existem outras possibilidades, outros ângulos a serem vistos.
O processo de autoconhecimento precisa estar estruturado na visão da constante mudança e alerta para novas interpretações. Um trabalho infindável que tem por objetivo nos elevar como seres humanos e avançarmos no caminho para a boa evolução. A aceitação e especialmente a forma como assimilamos os acontecimentos em nossa vida não pode ser estática, pois a vida é dinâmica e exige interpretações adequadas para que os fatos sejam compreendidos no seu verdadeiro sentido, sob pena de interpretarmos tudo como castigo ou sermos eternos espectadores da vida.
Difícil é encontrar a percepção certa, pois por maior que seja o ângulo de visão sempre existirão outras possibilidades que nos escapam, por isso é importante à interação com outras pessoas, tornando nossa autopercepção mais ampla e equilibrada. Diante de um mundo de infinitas possibilidades manter-se fixo em uma determinada visão ou interpretação é desperdiçar a oportunidade de descobrir novas formas de ser feliz. Boa Semana.