Escrita atemporal

O pacotinho está no fundo da gaveta. Marcília, em plena lua de mel resolve fazer uma faxina nas gavetas do seu antigo quarto na casa dos seus pais. Separa o que vai levar para sua casa, e o que vai colocar fora. Encontra as fotos em que está junto as suas irmãs. As três por ordem de tamanho, e, idade forma uma escada. Posam vestidas em fantasias. A saudade empurra a sua memória para o dia da foto. Rose, a mais velha, tímida, olha para o fotógrafo toda encabulada. Expedita, parece sorrir pelos olhos azuis. Marcília, a menor não respeita as ordens do fotógrafo para ficar quieta. Desse modo, saí na foto olhando para as duas irmãs.

Bijuterias, cartões, lenços, enfim, o passado se movimenta em suas mãos e olhos. O pacotinho escorre pelas suas mãos. O que pode estar no seu interior? Pode ser a simpatia feita em um dia 6 de janeiro, Dia de Reis, aquela de pegar uma romã e retirar nove sementes pedindo aos três Reis Magos, Baltasar, Belchior e Gaspar, para que no ano que se inicia o pedinte tenha muita saúde, amor, paz, dinheiro.

Depois pega três das nove sementes e guarda num papel fazendo um embrulhinho. Essas sementes ficarão dentro da carteira para nunca faltar dinheiro.

As outras três sementes, você engole e, as últimas três, que sobraram você joga para trás fazendo o pedido que desejar. É infalível. Você pode não ficar rico, mas na sua carteira vai ter sempre algum dinheiro.

Marcília vai à cozinha e mostra o pacotinho para a mãe. O pacote é apertado, amassado, apertado e nada descobrem. “Abra para ver o que é!” “Mãe, não abra espera vou tentar ler o que está escrito.” Letra bonita desenhada com lápis grafite!

“Bui...Biu...Bic...Nossa! Biucha nu mitro. Não! Bicha nu muerto. Não! Bicha no metrô! É isso, mesmo, bicha do metrô! Bicha de metrô?”

“O quê? Bicha de metrô? Deixa-me ler para confirmar. Buuuuuu... cha de metro! Ah! Já sei são sementes de bucha-de-metro para plantar no quintal.