*De repente toda mágica se acabou... * (BVIW)
No camarim, lembrava-se do dia em que conhecera o amor. Como esquecer alguém que fez seu coração parar de funcionar por alguns segundos? Os olhos se cruzaram com brilho intenso, e os lábios se tocaram com paixão. Teve a certeza: Deus estava lhe dando de presente o amor.
Sempre dançou, mas agora ele a acompanhava em todas as apresentações. Os passos dela, agora eram na direção dele, seus saltos eram para seu colo. Mas todo caminho tem um desfiladeiro.
Como uma doce bailarina amaria um soldado? Ele jamais compreenderia a sensibilidade dela. E ela tão acostumada a sustentar o corpo no ‘Arabesque’ não sustentou a pressão da família. Abandonou-o como fazem os covardes. Mas o soldado não era feliz longe da bailarina, e mesmo acostumado com a dor não sustentou a falta dela. Suicidou-se como fazem os honrrados.
Hoje era sua última apresentação. O vestido era rosa, mas ela se via desbotada. Envergonhava-se por não ter se jogado ao fogo com ele. E sem entender “tamanha insensatez, perguntava a todo instante a Deus: se foi pra desfazer, porque é que fez?”.
Naquela noite, sua tristeza era algo inexplicável. Ovacionada, ela despediu-se do palco... Do público... Da música e retirou-se de cena. Ainda no camarim engoliu alguns comprimidos e sussurrou: espere-me amor, estou indo.
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"Nossa casinha vazia
parece pequena sem o teu balé.
Sem teu café requentado
soldado de chumbo não fica de pé"...
(Bailarina e soldado de chumbo - O Teatro mágico)
Citação entre aspas: Vinicius de Moraes
Arabesque: passo do balé na qual o peso do corpo é sustentado numa só perna enquanto a outra se encontra esticada para trás, geralmente no ar.