FABULETA *
Um dia o diabo resolveu dar umas voltas sobre a terra e aterrissou no Brasil. Aterrissou é mentira, posto que veio lá de baixo: então irrompeu no Brasil. Circulou geral e como não podia deixar de ser, andou visitando parlamentos, palácios de governos e outras plagas que abrigam umas pragas eleitas pelo voto. Fez muitos amigos, entabulou muitas conversas, deu conselhos e, principalmente, fez muitos tratados. Disse aos seus pares que poderia lhes oferecer o paraíso se seguissem os seus ensinamentos. O paraíso, a seu modo, claro! Com os seus métodos e também com os seus riscos. Garantia inclusive, que a taxa de risco seria muito baixa, a fim de conseguir bastantes adeptos. Disse também que havia o paraíso prometido, “o outro”, mas esse, quem o desejasse, que fosse se queixar com um bispo, afinal era demorado alcançá-lo e não havia garantias reias. Garantias do tipo as que ele mostrou ao levantar seu saiote, mostrando a cueca e as meias recheadas de dinheiro. Um pacto foi assinado de imediato por muita gente com olhos brilhando e lambendo beiços. Uns já suspeitos, outros insuspeitos até então. No ato da assinatura, no entanto o diabo avisou:
- A condição para ser membro desse doce paraíso é que meu nome nunca apareça. Sabem como é, ando meio desgastado perante a opinião pública e isso não é bom para mim e pode não ser para vocês numa eventual reeleição. Então, em todas as suas campanhas, dirão nos comícios e também depois de eleitos, em todos os meios de comunicação possíveis:
A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS.
* Fabuleta é uma pequena fábula sobre as peripécias do capeta.