Mensagens
 
Estou com Roberto Pompeu de Toledo na cabeça desde que li sua última crônica (ou seria Ensaio) na última página de Veja da última semana. (legalzinho essa repetição, não? Foi de propósito).

Nela ele diz que a palavra mensagem é rombuda. Eu não sei o que significa rombuda e estou relutando em procurar no dicionário. Logo, corro o risco de estar pensando que rombuda é uma coisa que não é e não estar pensando que rombuda é uma coisa que é. (Acho que vou chamar esta crônica de “Das repetições e outras idiotices”)

Seja lá o que rombuda for ele esclarece: “Quem se aplica a procurá-la nos livros, nos filmes ou nas biografias deveria lembrar-se de que especialistas mesmo em trazê-las são o carteiro e o e-mail” (Explicando: a mensagem, não a palavra rombuda).

Isso tudo vem a propósito de minha professora de Inglês que além de tudo é minha amiga e uma das pessoas mais criativas que conheço. Mas ela tem um defeito de fabricação: ela quer, por tudo e por nada, que os seus alunos sejam tão criativos quanto ela. 
 
Nem mal começou o ano e ela me obrigou a escrever a história da Flor Roxa. Agora quer que eu encontre a mensagem em um texto que ela nos deu para ler.
 
O texto conta a história de um “water beetle” que vivia em uma comunidade de “water beetle” em um laguinho lamacento coberto por uma touceira de lírios. Eles viviam alegres e felizes, mas de quando em vez um deles subia pelo caule de um lírio e desaparecia. Ninguém nunca mais o via, nem tinha notícias, não sabiam se estava vivo ou morto. Isto deixava todos muito tristes e com medo. Temiam subir pelo caule e desaparecer também.

Mas, um daqueles “water beetles” se propôs a desvendar o mistério. Subiria pelo caule de um lírio, procuraria seus amigos e voltaria para contar aos amigos o que tinha acontecido com os desaparecidos e o que encontrara do outro lado, nas alturas. Ele foi subindo, subindo e ficando cansadinho parou para dormir. Então, quando acordou tinha – se transformado em um “dragonfly” (que nome mais idiota para uma libélula!). Uma libélula do rabo azul. Podia voar e voou. Viu as belezas que nunca tinha visto. Descobriu que aqueles que partiram antes não estavam mortos, mas sim viviam uma vida transformada, muito melhor do que antes. Ele quis voltar para contar aos “water beetle” o que tinha acontecido, mas lhe mostraram que isso era impossível. Sua realidade agora era outra.

Bem, é aqui que entra a mensagem. Ela quer que eu escreva, em Inglês, o que eu aprendi com o texto. A mensagem que o texto passou.

Sou um pouquinho exagerada e poderia lhe contar todas as mensagens que vieram a minha cabeça. Sei que ela gostaria de me ouvir dizendo que, se eu não ousar levantar vôo bem alto eu nunca conhecerei as belezas de falar um Inglês correto. Eu poderia lhe dizer também que só ultrapassando os próprios limites é que nos transformaremos em algo que ainda não somos, mas podemos ser. E que após mudarmos de estágio evolutivo,nunca mais voltaremos a ser os mesmos E bla bla bla bla.... uma quantidade de versões infinitas.

Mas... sabe o que pensei mesmo quando acabei de ler?
Pensei que vivemos em um mundo do qual só vemos parte da realidade, do que realmente É. Pensei que todos nós morremos e nenhum de nós quer saber de morrer porque quando um dos nossos morre é sempre triste e eles não voltam para contar o que lhes aconteceu. Nós temos medo de morrer porque a morte é o desconhecido. Mas é preciso ter coragem para enfrentar essa realidade que acontecerá mesmo se espernearmos. Vamos morrer e não vamos voltar para contar a ninguém o que aconteceu conosco, o que tem lá no alto, após a touceira de lírios. O único jeito de descobrir, ou não, é morrendo. Mas é bom acreditarmos que todos nós teremos condições de voar bem alto com nossos rabos azuis, embora eu prefira outra cor. Porque sem essa ilusão a vida perde a graça.
 
Lavras, 17 de fevereiro de 2010