TUDO É CARNAVAL

O Tomás, neto caçula, quatro anos, chegou lá em casa todo ouriçado, vindo duma fazenda em Juatuba, onde foi com os pais passar a terça-feira gorda do carnaval.

Chegou queimado de sol e picado de mosquitos, cheio de novidades, contando as peripécias do seu contato direto com bois, vacas, cavalos, porcos, cabritos, cachorros, patos, galinhas e outros bichos da roça.

Nossas atenções se voltaram para o lourinho espoleta, deixando a “TV” de lado com a mesmice daqueles desfiles das escolas de samba, e concentrando agora nos relatos do pequenino:-

“- Vovô, eu vi a galinha botando ovo! Peguei o ovo na mão, tava quentinho! ...”

“- Ah, é, Tomás? A galinha deixou? E o que mais você viu na fazenda? ...”

“- Eu vi os porquinhos, muitos porquinhos. Eles mamavam na barriga da mamãe deles, vô. Eram muitos mesmo! ...”

E foi por aí afora, discorrendo a respeito do seu contato com a mãe natureza, essa fonte inesgotável de vida, de maravilhas. Mato, bichos, currais, córregos, árvores frutíferas, ar puro, tudo o que nós perdemos ao vir pra cidade grande.

Daí a pouco a Vovó Maria botou mesa para o nosso café vespertino, chamando a galera presente. Mas o Tomás soltou aquele seu famoso grito de guerra, “- Cocô! ...”, e disparou pro banheiro social, trancando-se por dentro. Foi tudo tão rápido, ninguém percebeu direito a manobra do lourinho até que ele, lá de dentro, gritou:-

“- Acabei! Alguém me ajuda! ...”

E tentava abrir o trinco da porta do banheiro, a qual ele havia inadvertidamente trancado. Não conseguia! O nervosismo foi tomando conta do pessoal e um magote de gente se juntou no corredor, dando os mais diferentes palpites:-

“- Calma, Tomás. Nós já vamos abrir a porta.” – E o Tomás, lá de dentro, mexendo no trinco:- “- Eu não consigo, eu não consigo! ...”

Fui ficando apavorado e já pensava em chamar o Corpo de Bombeiros. Os minutos se passavam, o nervosismo crescia nos corações e mentes da turma até que a mamãe Karina tomou a frente das negociações , acercou-se da porta e falou enérgica:-

“- Tomás, calma, viu? Pegue o banquinho, suba nele e volte o trinco da porta ao contrário do que você fez pra fechar, entende? Você consegue, filho. Calma! ...”

O lourinho arrastou o banco, subiu e mexeu no trinco, seguindo a orientação da sua mamãe. E não é que logo a porta se abriu, para alívio de todos nós? ... Foi aquela alegria, contrastando com a bronca da mamãe Karina:-

“- Tomás, você está com essa mania! Não pode trancar a porta, viu? Uma hora dessas você fica preso no banheiro e nós temos que chamar os bombeiros! ...”

E o pequerrucho, olhinhos arregalados, entre o susto passado e o alivio pela liberdade alcançada:-

“- Mas, mamãe, a Delviva (sua babá) tranca o banheiro pra eu não ver o “bilau” (?) dela, quando ela toma banho, sabe? ...”

Não, é claro que a mamãe Karina não sabia! Aliás, nenhum de nós sabíamos, ora essa! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 17/02/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 17/02/2010
Código do texto: T2092164
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.