AS DUAS PERGUNTAS QUE BUDA NÃO RESPONDEU.

Certa feita, Buda, em suas incursões a buscar a verdade, o “Darma”, foi interpelado por um ouvinte, sentindo estar diante de um homem diferente do comum, perguntando-lhe: Você é um deus?

Buda silenciou. É um demônio? Continuou em silêncio. É um homem? E o Buda respondeu: Não. Quem é você, então? E o Buda respondeu: Eu estou acordado.

Isto significa um “novo estado de consciência”. É esse estado de consciência, visibilizado em nosso interior através do silêncio e da meditação, mesmo que em breves momentos, aliado à lei moral que movimenta a humildade, a compaixão e a comiseração, dimensionadas na caridade, que mostra o espaço que a matéria não alcança e onde desaparecem sofrimento, doença e morte.

A magia um tanto mítica do Buda, não reside somente em descobrir o ser humano seu Deus, o céu e a eternidade tão perseguidos, mas antes encontrar esse “novo estado de consciência”, ficar e “estar desperto”, de forma a evitar ao menos os sentimentos negativos.

Trata-se de reeducar a atenção. Instalar em nossa consciência uma nova atenção.

O que é isso? Não basta não fazer o mal, omissiva ou comissivamente, é preciso fazer o bem e desenvolver estágios maiores de grandeza interior que se externam em ações.

Prestar caridade implica em ação, ser humilde também. Não se é humilde por abstração, a humildade se mostra em atos e palavras. E que não seja forçada, que corra como um rio sereno de águas limpas, transparentes e isentas de dejetos.

Esses dejetos são os sentimentos menores que o novo estado de consciência afasta por “estarmos despertos”.

Com a atenção reeducada, essa habitação onde residem novos valores, depura o ser menor que podia ser visita indesejada.

O nome da localidade natal de Sidarta Gautama, o Príncipe tornado Buda, chamava-se Kapilavastu, que indica Morada de Kapila.

Kapila foi idealizador do Sankhyan, filosofia base do Budismo.

Como Kapila, Buda censurou o sistema de castas da Índia. As castas são como os sentimentos, divisionárias. Esta a razão de meu artigo.

Onde há sentimento de superioridade há como uma casta a pregar, exalar e sentir o que não se é: mais do que são nossos semelhantes.

Por uma série de razões, tendo como centro a invasão muçulmana do século XII, o budismo não monopolizou a Índia, absorvendo quase todo o extremo oriente.

Ocorreu identidade com a destinação do cristianismo na Judéia e pode-se dizer o professorado para a posteridade dos mesmos princípios.

Maya, mãe de Buda, morreu sete dias depois do parto e Sidarta, foi criado por uma tia, Mahaprajapati, que se tornaria a primeira monja budista.

Sabendo que estava destinado a seu filho um futuro excepcional, Sudohodana, seu pai, fez construir para ele três palácios, dos quais excluiu tudo o que pudesse lembrar os males do mundo. Seria um recluso da felicidade plena.

Somente para registro, seu harém tinha 84 mil mulheres e ele era o primeiro em todas as competições, face ao seu extremado treinamento, que incluíam modalidades tão diversas como caligrafia e natação, gramática e corrida, botânica e luta.

Casa-se o Príncipe Sidarta aos dezenove anos com sua prima Yasodhara, vivendo aproximados dez anos fora da realidade, em paraíso de felicidade aparente e requintada satisfação dos sentidos.

Sidarta fora das cercanias de seus palácios conheceu a velhice, a doença e a morte, o que ocorria com todos os homens.

Esse novo conhecimento transtorna os pensamentos de Sirdarta que decide partir em busca do esclarecimento. Abandona tudo e fica somente com os objetos a que futuramente terão direito os monges mendicantes budistas: o traje amarelo, o cinto, a navalha para raspar os cabelos, a agulha, a tigela para esmolas e a peneira para filtrar a água.

Sofreu forte influência do Sankhyan e do hinduísmo, expresso nos Vedas.

O sofrimento é inerente a toda forma de existência; a ignorância é a origem do sofrimento; pela extinção da ignorância é possível extinguir o sofrimento; o caminho que leva a isso é desapegado integralmente da entrega aos prazeres e apelos do mundo e dos rigores do ascetismo.

Buda sinaliza esse meio de atingir à iluminação comparando com um alaúde, cujas cordas não podem estar nem muito frouxas nem muito tensas para que se produza o som adequado.

É o famoso caminho do meio. Nele está o sistema óctuplo: compreensão correta, pensamento correto, palavra correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção correta, concentração correta.

São condutas de meditação para compreensão plena que não pode ser alcançada por meio de palavras. Por esse caminho se chega à extinção da ignorância, não associada no budismo à prosaica falta de informações, mas ao desconhecimento do sentido maior da existência. Dos apegos egoístas que ela gera.

Buda superou o samsara, o mundo das aparências, e encontrou o nirvana em sua iluminação.

É assim que devem todos se portar para alcançar um pouco de serenidade e apagar mentiras que o ser humano cria sobre si mesmo.

E as castas, agora tão evidenciadas e mostradas na mídia, são mentiras sobre a origem e igualdade dos homens.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 17/02/2010
Código do texto: T2091310
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