Celebração de Coisa Alguma

Numa manhã de sábado... ou seria de terça-feira? Me vejo sentada, na frente do computador, minha irmã em seus trajes de banho, cheirando ao usual protetor solar e penso: é Carnaval. Carnaval, pelo qual, meu terrível colégio tinha horror - sempre o classificando como o 'Festival da Carne', simplesmente detestável. Penso isso, é claro, porque minha rotina diária se assimila mais do que de costume à rotina dos outros dias, como chamamos em minha casa. E, só, à frente do computador me paro para ler com cuidado o título da música que ouço. Iron Man, eu já sabia. Simplesmente não podia crer que em pleno Carnaval estivesse com meus ouvidos à distância do inevitável samba. Afinal, de uma marchinha para Black Sabbath havia uma ligeira diferença.

Meu avô, que na realidade não escuta nada com o ouvido direito, reclama, irritado que "está muito alto", reclamação a qual eu ignoro pois ele só reclama porque considera 'barulho'. Agora, seus Bach da vida são as divinas obras humanas, que tem de ser ouvidas no máximo dos máximos porque, do contrário, ele não ouve os Lá Sustenido, ou seja lá o que ele deixa de ouvir. E a casa até balança. Mas alguém pode censurá-lo? Bem, ele acaba de cumprir 90 anos, o que o torna digno de certo respeito.

E o Black Sabbath em instantes se torna Pink Floyd, o que abaixa o volume consideravelmente. O que faz tornar possível a adorável bandinha do meu bairro se tornar audível, suscitando em mim um irritamento da natureza mais profunda, me fazendo buscar fones de ouvido incrivelmente grandes (e coloridos: azul, amarelo e branco em tons neon) para que eu mesma ouvisse os meus lala-Lá sustenidos.

Detesto parecer velha ao dizer "no meu tempo...", porém terei razão ao dizer que em meu tempo Carnaval era um feriado muito mais saudável e alegre do que esta débil celebração de coisa alguma dos dias atuais.

E mesmo assim, censurando parte da euforia nacional (e estrangeira, afinal Madonna, Beyoncé e Alicia Keys estão alegremente hospedadas no Rio de Janeiro) eu acabo tomando parte quando ouço algum conhecido criticar a festividade momentânea, porque depois de tudo isso é o que somos, brasileiros, carnavalescos.

Bom Feriado, desejo à todos.