Um Mundo Quase Perfeito
Naquele tempo chamavas-me carinhosamente de “bebé”. Em parte por eu ser como uma luz radiosa na tua existência conturbada e em parte por ser uma espécie de cordão umbilical que te mantinha em conexão com o resto da humanidade.
Vivíamos num mundo só nosso, onde tudo se equilibrava em quase absoluta perfeição. As dificuldades do dia-a-dia mais não eram de temporárias e ultrapassáveis barreiras que as capacidades da razão e da lógica venciam perante os desafios do estudo. Tudo era passível de ser conhecido e explicável naquele tempo luminoso em que estávamos juntos, e eu era a tua “bebé”.
Não éramos um simples casal apaixonado e absorvido um pelo outro. Partilhávamos o amor por tudo o que a natureza produzira, desde o infinitamente pequeno, que espreitávamos ao microscópio até ao avassaladoramente ilimitado que vislumbrávamos no telescópio. O fascínio e o espanto da descoberta da beleza de uma mitocôndria, a contemplação das placas de rochas no cimo da montanha que te faziam dizer: “ aqui já esteve o mar!” dava-nos os alicerces de uma relação tão profunda quanto inabalável.
Por vezes, a seguir ao nome com que tão carinhosamente me tratavas, “bebé”, descia uma sombra sobre o teu rosto e murmuravas baixinho “ mas tu vais crescer...”. Não sei se inconscientemente ignorava a frase ou se deliberadamente a escamoteava e desculpava com um momentâneo sinal de fraqueza ou trauma pelo teu passado menos recente.
Afinal aquele mundo perfeito era o meu mundo, o nosso mundo, e nada podia quebrar o maravilhoso equilíbrio estimulante em que vivíamos.
No entanto, sem que me apercebesse e sem que o pudesse evitar eu caminhava já a passos largos para um local e um tempo que não mais me poderias voltar a chamar de “bebé”. Estava em vias de me tornar uma mulher.
Naquele tempo chamavas-me carinhosamente de “bebé”. Em parte por eu ser como uma luz radiosa na tua existência conturbada e em parte por ser uma espécie de cordão umbilical que te mantinha em conexão com o resto da humanidade.
Vivíamos num mundo só nosso, onde tudo se equilibrava em quase absoluta perfeição. As dificuldades do dia-a-dia mais não eram de temporárias e ultrapassáveis barreiras que as capacidades da razão e da lógica venciam perante os desafios do estudo. Tudo era passível de ser conhecido e explicável naquele tempo luminoso em que estávamos juntos, e eu era a tua “bebé”.
Não éramos um simples casal apaixonado e absorvido um pelo outro. Partilhávamos o amor por tudo o que a natureza produzira, desde o infinitamente pequeno, que espreitávamos ao microscópio até ao avassaladoramente ilimitado que vislumbrávamos no telescópio. O fascínio e o espanto da descoberta da beleza de uma mitocôndria, a contemplação das placas de rochas no cimo da montanha que te faziam dizer: “ aqui já esteve o mar!” dava-nos os alicerces de uma relação tão profunda quanto inabalável.
Por vezes, a seguir ao nome com que tão carinhosamente me tratavas, “bebé”, descia uma sombra sobre o teu rosto e murmuravas baixinho “ mas tu vais crescer...”. Não sei se inconscientemente ignorava a frase ou se deliberadamente a escamoteava e desculpava com um momentâneo sinal de fraqueza ou trauma pelo teu passado menos recente.
Afinal aquele mundo perfeito era o meu mundo, o nosso mundo, e nada podia quebrar o maravilhoso equilíbrio estimulante em que vivíamos.
No entanto, sem que me apercebesse e sem que o pudesse evitar eu caminhava já a passos largos para um local e um tempo que não mais me poderias voltar a chamar de “bebé”. Estava em vias de me tornar uma mulher.