NO BAR
Minha filha e o noivo foram ao balcão pagar a conta.
Sozinha na mesa reparei no casal ao lado. A filhinha, uma garota de mais ou menos três anos, brincava alheia a tudo.
No chão, uma cadeira virada. Notei que a menininha fazia gestos e conversava animadamente com ela, num papo muito particular. Curiosa, prestei atenção.
De repente, a garota virou-se. Deu comigo, mas não se constrangeu. Pelo contrário, acenou a mãozinha me chamando. Levantei-me, fui até lá. Ela me olhou com uns olhinhos de mistério e apontou a cadeira no chão.
_ Olha aí, o Lobo Mau...
Fiz cara de assustada entrando no clima do faz de conta.
_ Nossa! Como ele é mau, hein? Tô com medo...
_ Nada, ele é Lobo Mau bonzinho, é lobinho pequeno...
_ Ah, então tá... Se é bonzinho...
Ela fez uma concha com a mão esquerda e usando os dedinhos da direita simulou pegar alguma coisa e colocar na minha mão.
_ Olha aqui, dá uma comidinha pra ele...
Peguei o “alimento” e ofereci à cadeira no chão...
_Toma lobinho! Tá uma delícia!
A menina riu de contente.
_ Tá vendo, te falei que ele não morde...
Os pais agora acompanhavam a cena. Sorriram-me com simpatia, como a agradecer pela compreensão.
_ Ela tá na “fase do imaginário”, explicou a mãe, numa justificativa. Já me falaram que vai passar...
Ri, pensando em mim...
O que aquela mãe não sabia é que entendo de imaginários como ninguém! Sei bem o que são. A diferença é que os meus não passaram até hoje...