CHEIRO DE GRAMA MOLHADA ….

 

       Até que eu tenho tentado mas sinceramente, não consigo me acostumar com a vida agitada da cidade grande. Às vezes eu penso que não passo de um bicho do mato.

        Estive   alguns  dias   num lugar maravilhoso ! Cidade pequena, gente simples, brisa suave, lindo entardecer e principalmente aquele delicioso cheiro de grama molhada ao amanhecer.

         Se querem saber, eu daria tudo prá morar na roça, no campo ou no meio do mato. É simplesmente fantástico acordar de manhã bem cedo ao som do canto de um galo caipira , abrir a janela e se despedir das estrelas que se recolhem para retornarem bem mais tarde para nos abrilhantar com um céu atapetado de luzinhas faiscantes.

       Por ser uma pessoa simples, gosto de ambientes bem simples e nesse último feriado consegui fugir da agitação, das pressões e das cobranças habituais.

        Esqueci de tudo mas não esqueci de todos. Evidentemente que tendo pessoas queridas , dessas que já têm loteamento marcado no meu coração, tenho a vantagem de poder levá-las em pensamento para onde eu for.

      Creio que se me mudasse em definitivo para uma cidade pequena do interior não estranharia nem um pouco, pois continuaria acordando cedo, faria caminhadas pisando na terra e na grama , teria um pouco mais de tempo para cuidar de animais domésticos , das minhas plantas , reorganizaria minha biblioteca e com certeza aproveitaria até o fim da minha vida para ler muito.

       Não sei se já disse que gosto muito mais de ler do que de escrever e no sossego do interior, tendo luares prateados e céus estrelados, além da majestosa chegada do sol matinal , possivelmente teria chances de ler muito mais e escreveria menos, cada vez menos, até que um dia deixaria totalmente de maltratar as teclas do meu PC.

     Gradativamente  também o WRAMOSS deixaria de existir pois na roça, no mato e cuidando de galinhas e de algumas vaquinhas não daria muito certo ser tratado por um simples codinome. Nunca ouvi falar de pessoas que vivessem na roça e fossem conhecidas por um pseudônimo.

        Eu adotaria um chapéu de palha com abas bem largas, calçaria umas botas de cano longo e seria simplesmente o “Wilson” para muitos e o “cumpádi Uírçu“ para uns poucos.

        Cada vez que consigo me afastar da cidade grande, deixar minha casa por uns dias, sinto que meu coração também vai se desgrudando da minha rotina habitual e vai se preparando para adotar uma outra roupagem, quem sabe novos sentimentos, novos gostos.

        Não sei se ando me cansando disso aqui, dessa balbúrdia, da barulheira e se na verdade meu corpo já pede , já suplica por outros rumos, outros cheiros e novas vivências.

       Meu coração já pede isso há muito tempo mas, teimosamente e tentando me enganar continuo por aqui, vestindo roupas de cidade grande e distribuindo sorrisos forçados, comuns a quem finge que gosta de estar em determinado lugar.

         Desta vez o cheiro de grama molhada me sensibilizou com mais força , fez com que meu coração quase pulasse pela boca. Não me lembro, por exemplo, de ter visto nascer do sol mais lindo do que tive a felicidade de ver nos últimos dias.

      Não me lembro também de ter visto tantas estrelas juntas e olha, não acredito que possa existir um pintor ou um artista que descreva o lindo espetáculo que é o anoitecer na roça.

        Tirei várias fotos. Algumas ficaram maravilhosas e se parecem muito comigo, com a vida que gostaria de levar. Talvez um dia, quem sabe, eu mostre para os amigos.

        O curioso é que revendo essas fotos meu peito se enche de saudade e a muito custo consigo conter uma tímida lágrima que teima em brotar nos meus olhos.

        Agora por exemplo, faço uma pequena pausa para olhar pela janela, olhar para  o  infinito  tentando   ver o mesmo céu estrelado. Claro que não é o mesmo céu. Eu sei que as estrelas são as mesmas mas, lá onde eu estava, rodeado de coisas e gente simples elas brilhavam muito mais.

        Desta vez não tive chance de fazer uma coisa que adoro que é andar à cavalo, mas tudo bem, fica para uma próxima vez e quem sabe, na próxima eu continue cavalgando por muitos e muitos dias, sem nenhuma pressa de desmontar e de voltar para onde atualmente moro.

         Pois é, olhando pela minha janela eu tento aspirar o ar da noite. Mas que ilusão, o cheiro de grama molhada só vou sentir novamente se voltar para o lugar que realmente amo.

        Estou pensando seriamente em fazer isso, muito breve .....

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(...uma de minhas fotos, na roça...)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 16/02/2010
Reeditado em 26/02/2013
Código do texto: T2089068
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