O perigo do rótulo
O estereótipo que criamos das pessoas estabelece o nosso parâmetro de avaliação. Quando alguém que é normalmente muito chato faz alguma gentileza, imaginamos que seja por algum interesse. Quando alguém que taxamos de educado fala algum palavrão, estranhamos. Se uma pessoa que é sempre muito tranquila fala um pouco mais alto, para nós ela já se exaltou, mesmo que tenha falado ainda assim mais baixo do que quem normalmente grita.
É como se já supuséssemos a reação de cada pessoa em cada situação. Fazemos isso automaticamente. “Do jeito que ele é, vai responder assim...” “Pelo que eu conheço do Fulano, vai achar tal coisa...” “Por incrível que pareça, ele aceitou.”
São esses rótulos que contribuem para que façamos julgamentos equivocados das pessoas. São essas pressuposições que nos fazem perder a oportunidade de falar com alguém que imaginamos que não concordará. Elas também nos fazem enfrentar situações inesperadamente embaraçosas, desconfortáveis, pegos de “calça curta”. Muitas vezes, rotular é gerar maldade a partir de um julgamento errôneo.
Os rótulos deveriam ser colados só em produtos mesmo. Porque eles contêm informações verdadeiras. E existem leis para regulamentar o seu conteúdo e a sua veracidade e punição para quem não as cumpre. Já os rótulos pessoais são subjetivos, tendenciosos, ao mesmo tempo forçados e livres demais, e sem punições para as falsas informações.
Todo mundo muda. Uns para sempre. Outros com volta. Todo mundo muda a todo momento. Muda o instante e a situação, muda também a intenção e a impressão. O rótulo pessoal é um equívoco difícil de evitar.
(Catalão, 01/02/2010)