DRICA MORAES E OS DIAS MAUS

Nas vésperas do carnaval soubemos que a atriz Drica Moraes entrou numa página sombria da vida. A leucemia foi encontrada em seu sangue. Apesar das últimas conquistas da medicina, essa notícia é geralmente um presságio de sofrimento e até de morte. Peculiarmente conhecida pela descontração e papéis cômicos, o script dela mudou de tom, de comédia para o drama.

Interessante como o sentimento de piedade agora me faz lembrar dela como se fosse uma amiga ou parente próximo. Dá até vontade de ligar pra ela, doar sangue, enfim, fazer algo que nos coloque perto; não pela arte e admiração, mas pela dor. É um reality show diferente. E esta química da dor e sofrimento faz a gente olhar com olhos diferente pra quem nunca olhamos com afeto ou ternura.

Tenho um amigo e irmão de fé que procura oportunidades nas tragédias desses dias para oferecer voluntariamente qualquer tipo de ajuda, desde remover entulhos até a distribuição de alimento e remédios. Quando vejo na TV cenas de pessoas socorrendo e sendo socorridas logo o imagino lá, sujo, cansado, encharcado ou empoeirado, mas sorrindo. Porque lá, as pessoas estão encharcadas de sentimento de misericórdia e quebrantamento, e as máscaras de altivez e auto-suficiência são arrastadas junto com os bens pelas correntezas da vida.

Acho que o mundo que vivemos seria tão melhor e diferente se sentíssemos como que num estado comum de calamidade, tomados por enchentes e terremotos de segunda a domingo. No fundo não acho que precisamos disso e nem quero isso pra mim e pra ninguém, mas nos tornaria mais próximos, reconciliados e sensíveis.

Quem sabe, se decretássemos interiormente que estamos vivendo em tragédia, o tom das conversas entre família não mudaria. Será que os motoristas no trânsito não seriam menos tensos e mais cordiais? Alunos e professores construiriam a educação juntos? Velhinhos não morreriam nas filas esperando atendimento? Talvez sim. Passado o carnaval, logo encontramos as cinzas. Então, quem tem olhos para ver que veja, pois não falta muito para decretarmos de fato dias maus.