Febre
Acordei com febre, as bochechas queimando, os olhos pesados... O dia inteiro na frente do primeiro minuto me palpitando na garganta; uma vontade de fugir! Mas medo de quê? Os mesmos barulhos de sempre, a mesma sensação de segunda-feira pesando no corpo. E a não mesmice de ter febre é quase um prêmio, uma atenção recebida, uma preocupação que acalenta. Fugir para quando?
Tudo tem sido sempre igual. Os dias passam depressa (e às vezes, no meio da tarde, parece que aquele dia é eterno e não vai acabar nunca mais). A vida anda a passos largos, mas não se move, não sai do lugar. As angústias se repetem em círculos e o vício de deixar tudo assim mesmo parece se agravar. Quase uma tonteira agora me arrebata o coração. Onde está o mundo? Onde estão as pessoas? O mundo morreu na garganta arranhada pela inflamação... E é preciso engolir e isso dói.
Coisas novas e aniversários. Tudo velho, no poço das lembranças. As coisas sempre foram novas e tantos anos se passaram com bolos e velas! Os presentes já não são mais os mesmos, e no entanto são exatamente iguais, representam o mesmo nada de sempre, que é tudo que sentimos. E que parabéns posso dizer? Que felizes aniversários posso desejar? Hoje não é uma vida, não é um filme, não é um sonho e nem uma realidade. Hoje é só mais um dia e amanhã deve chover. Às vezes chove nos aniversários. As nuvens não sabem de sentimentos...
Agora o dia está chegando ao meio e a febre resiste ao remédio como se eu precisasse mais dela do que do meu tino. A febre companheira das lamentações, das lágrimas, da dor, da doença. A febre que me faz ver, exatamente porque me cega de toda a razão. A febre que me manda para casa e vai junto comigo, me faz dormir antes de ceder e me atira ao momento breve de acordar melhor amanhã de manhã e pensar que a vida se resolveu, mesmo que seja por um instante... Eu sei que estar profundamente triste é se abrir para todas as pequenas felicidades. Mas acontece que sou inaceitavelmente feliz. E não há nada mais triste...
Rio/Setembro/2005
Acordei com febre, as bochechas queimando, os olhos pesados... O dia inteiro na frente do primeiro minuto me palpitando na garganta; uma vontade de fugir! Mas medo de quê? Os mesmos barulhos de sempre, a mesma sensação de segunda-feira pesando no corpo. E a não mesmice de ter febre é quase um prêmio, uma atenção recebida, uma preocupação que acalenta. Fugir para quando?
Tudo tem sido sempre igual. Os dias passam depressa (e às vezes, no meio da tarde, parece que aquele dia é eterno e não vai acabar nunca mais). A vida anda a passos largos, mas não se move, não sai do lugar. As angústias se repetem em círculos e o vício de deixar tudo assim mesmo parece se agravar. Quase uma tonteira agora me arrebata o coração. Onde está o mundo? Onde estão as pessoas? O mundo morreu na garganta arranhada pela inflamação... E é preciso engolir e isso dói.
Coisas novas e aniversários. Tudo velho, no poço das lembranças. As coisas sempre foram novas e tantos anos se passaram com bolos e velas! Os presentes já não são mais os mesmos, e no entanto são exatamente iguais, representam o mesmo nada de sempre, que é tudo que sentimos. E que parabéns posso dizer? Que felizes aniversários posso desejar? Hoje não é uma vida, não é um filme, não é um sonho e nem uma realidade. Hoje é só mais um dia e amanhã deve chover. Às vezes chove nos aniversários. As nuvens não sabem de sentimentos...
Agora o dia está chegando ao meio e a febre resiste ao remédio como se eu precisasse mais dela do que do meu tino. A febre companheira das lamentações, das lágrimas, da dor, da doença. A febre que me faz ver, exatamente porque me cega de toda a razão. A febre que me manda para casa e vai junto comigo, me faz dormir antes de ceder e me atira ao momento breve de acordar melhor amanhã de manhã e pensar que a vida se resolveu, mesmo que seja por um instante... Eu sei que estar profundamente triste é se abrir para todas as pequenas felicidades. Mas acontece que sou inaceitavelmente feliz. E não há nada mais triste...
Rio/Setembro/2005