O VELHO SÁBIO

No silêncio da noite pairava no ar uma quietude tão grande que doía forte na alma do homem que saíra mundo afora, a procura de paz, de tranquilidade.

O burburinho da cidade, as malfadadas prosas com os amigos, muitos dos quais, descrentes da vida, já curvados e submissos à idéia de que nada mais adiantaria coisa alguma, porque a humanidade não poderia recuperar sua postura.

Entrava semana, mês e ano, o assunto era o mesmo. Com o passar do tempo, nosso homem não podia mais ficar ali, naquela cidade pacata e enfadonha. Sua capacidade limite esgotou-se!

Então, ele decidido pegou sua mochila e saiu percorrendo estradas sem fim, todas as estradas, em busca de algo que sossegasse sua mente, seu coração.

Nosso andarilho, o velho Sócrates, contador de histórias acreditava que poderia existir sim, algum lugar no mundo, isento de despudores de vidas acomodadas, maldizentes, vidas pequenas e pobres de espírito.

Depois de muito andar, tendo os pés feridos, exausto, não conseguia mais caminhar. Estava já para desistir quando avistou ao longe enorme faixa verde. Encheu-se de alegria, e continuou seu caminho, quando para sua alegria constatou: Aquela faixa verde era uma exuberante mata que se estendia qual uma fortaleza entre as montanhas.

Encheu-se de ânimo, acelerando o passo logo chegou àquele lugar paradisíaco.
Havia bem no coração daquela mata, um rio de águas cristalinas cujo frescor sentia-se à distância.

Aconchegou-se naquele paraíso que a natureza lhe oferecia. Por longos dias o Velho Sócrates viveu cheio de tranquilidade, reabilitou suas forças e energias vitais e arejou seus pensamentos. Sentia-se forte e feliz como um jovem que acaba de deixar o colégio.

Sua única companhia eram os passarinhos que cantavam dia e noite; aquelas águas claras e toda aquela natureza rica e farta, faziam-no sentir imenso prazer de viver!

O tempo foi passando e o nosso bom amigo começou a sentir-se entediado e cansado daquela quietude que estridente doía-lhe os ouvidos!...

É. Já está na hora de voltar, pensou ele, que folheava as páginas de seu cérebro e podia sentir esfregar-se na lembrança gostosa e cheia de saudades de tudo e de todos que deixara para trás!

É. Claro que eu não ia ficar aqui para sempre... Saí de casa só para esfriar a cabeça, aliviar minhas tensões, descansar, pensar e ver coisas novas!

Na verdade, o Velho Sócrates estava angustiado com aquela solidão que lhe dava um enorme vazio e começou a ficar triste e já não agüentava mais estar só.

Todas as tardes com o coração apertado, esperava a chegada da noite, até que não podendo mais continuar ali, naquela Terra dos Deuses, naquele paraíso encantado da mãe natureza, Sócrates decidiu voltar para casa.

Quando de regresso a sua terra natal, Sócrates reviu seus velhos amigos, seus amores, sua família, os quais fizeram uma festa de arromba para comemorar sua volta. Não sabia ele que todos aqueles “pobres de espírito” que o cansaram antes, o amavam e precisavam de seu apoio, de sua palavra, e sobretudo de seu amor!

-Oh! Querido Sócrates, ainda bem que você voltou a tempo de continuar sua sina, que nada mais é que seu bendito karma!

Você, velho amigo, não poderá viver longe daqueles que à terra vieram contando apenas com você para ajudá-los na longa e difícil travessia desse mar bravio que é a vida!

Foi aí, que observando nosso bom amigo, aprendi muitas lições:

O homem consciente jamais conseguirá fugir de suas responsabilidades;
Não conseguimos viver longe daqueles que esperam de nós a luz para seus caminhos e estendem as mãos para que os conduzamos;
Quando temos a missão de ajudar e de servir, só nos realizamos, somos felizes e adquirimos a paz interior se nos dedicarmos com muito amor e tranquilidade aos nossos irmãos pobres e carentes de alma.

Que Deus o ajude Querido Sócrates, e que eu possa ter a divina graça de encontrá-lo ainda nesta vida, e possa ensinar-me todas as lições que você aprendeu no decorrer desta sua viagem cheia de venturas, de lutas e de conquistas!...

A todos os que acabam de conhecer o Sócrates, venham comigo, juntos poderemos encontrar mais depressa o Velho Sábio das estradas da vida!...

Vamos. Desejo que cada um possa colher todos os frutos que encontrar pelo caminho e aliviar suas tensões e dores, contemplando de perto todas as belezas da natureza, e sentir as emanações de paz, de tranquilidade e de sabedoria que emanam do nosso amado Sócrates, quando o encontrarmos algum dia desta vida... em algum lugar!...