CADERNINHO DE PLANO DE AULA: Chicote ou cavalo de Tróia? ("Controle o seu destino ou alguém controlará." — Jack Welch )
Meu sonho profissional era ser médico! Por um arranjo superior, as circunstâncias me levaram a ser professor. Agora fico me justificando, que em termos de missão e contribuição social, médico se assemelha e muito proximamente de professor! Ambos educam para a saúde social.
Como não sei de fato qual é o trabalho de um médico, só na posição de paciente, então fico tentando imaginar como seria um planejamento semanal de atendimentos eficientes de um bom médico e funcionário público. Será que ele teria que adivinhar os problemas dos pacientes que iriam aparecer? Como prestaria contas a seus coordenadores que também são médicos atendentes e, por certo também, fazem seus planejamentos? Talvez, não fossem tão bons se empregassem a maior parte de seu tempo, cobrando uns dos outros pacotes de documentos para justificar trabalho e mostrar serviço; enquanto isso, os doentes da população pobre, morrendo nas filas de espera!
Os médicos que se prezam devem fazer sim algum tipo de planejamento que retrate exatamente a competência de um bom profissional, que ganhou o respeito da população não por planejamentos bem esquematizados em papéis ilustrados, para satisfazer a "chefes" assediadores, mas com resultados positivos. Creio eu, os depoimentos de pessoas tratadas e a grande procura voluntária são o melhor relatório de um médico. Com um pequeno aspecto a ponderar, o paciente quer com todas as forças ser curado, e o aluno quer ser aprovado com o menor esforço possível. Em todos os casos, mérito ao médico/professor, baseado na confiança conquistada com profissionalismo sério, garantido, mais ainda, por um diploma bem merecido.
Agora me sinto mais frustrado e assediado moralmente, tendo que fazer um plano anual, um plano semanal detalhadamente e um plano alternativo, este último é se precisar sair da rotina. No pouco tempo que me resta em casa, não sei se preparo bem minhas aulas ou se fico organizando caderninho de planejamento para entregar às coordenadoras, colecionando, dessa forma, prestígio como se minha formação e os resultados do meu trabalho não fossem suficientes. A Professora Sarah Oliveira postou no Facebook: "Caros colegas. Tivemos a presença do tutor em nossa escola e foi nos passado (ou ameaçado), que caso não entregarmos os planejamentos nas datas previstas o nosso pagamento será bloqueado... Alguém já recebeu este comunicado????" Parece-me que a metástase está acontecendo em todos lugares e de todas as formas! E a pergunta que não quer calar É: "Pagamento bloqueado por causa de planejamento é ridículo! Meu Deus! Por que aceitamos isto?!!!!!" (sic) - Rosângela Magalhães. (04/04/2013).
Não adianta, escola em desespero volta ao tempo do caderninho de plano enfeitado, porque cada aluno tem seu tempo e ritmo confortáveis de aprendizagem, assim qualquer plano de aula estará desfalcando a maioria. Alguém esta querendo consertar ou só se estabelecer? Se pelo menos, voltassem um pouco mais até ao tempo dos bons professores, quando um sábio falava, o prudente escutava, inclusive o tolo calava-se fingindo ser sábio, mas hoje não até o tolo tem iniciativa que é um perigo, diga-se de passagem. De volta à ditadura! Minha coordenadora é tão conhecedora dos objetivos e eficiência de um plano de aula, que vendo os alunos fugindo da minha sexta aula do matutino, culpa-me por falta de plano! O objetivo real de um plano é: viabilizar o conteúdo a ser ensinado; facilitar e organizar o trabalho do professor; favorecer o aprendizado ao aluno; promover a coordenadora. É lógico, se não for explorado o último item dessa enumeração, o resto não presta. Já que o plano é individual devíamos fazê-lo e praticá-lo da forma que nos fosse mais confortável! Será se coordenador algum saberá o que é melhor para mim e minha matéria de trabalho?
Se a escola é responsável pelo que o professor ensina em sala, manteria melhor controle, se ela mesma elaborasse o planejamento que o professor deveria cumprir em sala, assim agradaríamos melhor nossos coordenadores, e eles se limitariam em observar apenas se o plano está sendo aplicado. O bom senso me diz que não há ninguém melhor para determinar o quê e como ministrar uma aula do que o próprio professor responsável da área. Ridículo mesmo é ver os coordenadores fingirem que avaliam os professores quando vistam nossos "caderninhos de planejamento" (copiados da internet).
Se as coordenadoras fizessem planos anuais, semanais e alternativos detalhadamente, além de inspecionar os nossos, dependendo disto para mostrar um bom serviço, talvez entendessem melhor minha frustração! Porém, insistem em ameaçar o professor, de não deixarem entrar para ministrar suas aulas, se antes não tiver entregado o tal plano para elas.
Conheço coordenadores que pegam o caderno de planejamento dos professores e passam uma semana para devolvê-lo, enquanto isso, os professores trabalham sem orientação, como se não planejassem! Ou terão, acima de todo sofrimento desnecessário, ainda, de tirar cópia da "pa(pelada)"? Eu me envergonho por eles! E diga-se da passagem, eu não queria ser clínico geral como os pedagogos são para a escola, prestando-se para tudo, quando preciso de médico sempre procuro um especialista.
Como disse Napoleão Bonaparte: "Um bom esquema vale mais que um longo discurso". Então reafirmo que, com um rascunho em mãos e a colaboração do alunado, todo professor de boa formação ministra uma boa aula! Abaixo ao plano B...
Estamos já no século XXI, finalmente chegou a tecnologia na educação, mas, continua difícil, preciso virar as noites, arrastando os conteúdos de todas as aulas para atender os requisitos no diário eletrônico. Na ilusão de que com o computador é menos trabalhoso que o preencher do diário de papel, o plano impresso também não é seguido! Porque valem mais os conteúdos e menos as formas. Ou até agora, estamos "enchendo linguiça"? Mais vale um plano de aula que uma aula, e o aluno semianalfabeto é a revelação de resultado. E assim, vamos que vamos num trabalho tão dispendioso para mostrar o quê? Para quem ver? Para que serve? Achei que ia melhorar! Mas... "Para que as pessoas possam ser felizes em seus trabalhos, essas três coisas são necessárias: Elas devem ser adequadas ao trabalho; elas não devem trabalhar demais; e elas devem ter uma sensação de sucesso neste trabalho." (John Ruskin).
Editando esta crônica depois de seis anos, para relatar que as profecias do texto está se cumprindo no estado de Goiás com o "RODA" (Roteiro de Didática Aplicada). Parece-me que era algo exatamente parecido com isso que eu imaginava.