Listas


Muitas vezes leio alguém escrevendo que não consegue escrever porque está sem inspiração. Não é um fato raro, principalmente entre aqueles que precisam escrever porque essa é a sua profissão. Mas aqueles que escrevem por prazer também se queixam dessa ausência. Comigo também acontece, mas eu resolvo o problema logo. Busco alguma coisa para ler e dali, de repente, não mais do que de repente ela chega, a inspiração, e eu escrevo algo que não tem nada a ver com que eu estava lendo, mas que foi inspirado pela leitura. Sei lá porque isso acontece, mas acontece.

Hoje eu estava me sentindo assim, sem inspiração. Na verdade, sem nenhuma vontade de escrever. Mas também sem nenhuma vontade de não escrever. Então, fui ler. E lendo, descobri que acabou há poucos dias uma Mostra no Louvre, em Paris, França, (Precisava explicar tanto?)cujo curador é o escritor Umberto Ecco. A infinidade das listas é o nome da tal mostra que reúne impressões e desenhos comprovando através da obra de artistas nossa compulsão por listar coisas.

Ao lado dessa notícia vinha outra falando do Neighborgoods, site que funciona como uma rede de relacionamentos para intercâmbio de objetos imprestáveis. Ou seja, aqueles que você comprou porque não podia viver sem eles e nunca utilizou ou o fez uma única vez. Um site em que você empresta para seu vizinho algo que não presta para nada, um objeto imprestável, mas que presta para ele. Se quiser pode dar também, ou vender, qualquer negócio é melhor do que ficar com o objeto ocupando espaço em sua casa, segurando a energia que deve fluir livremente. 

Foi aí que surgiu a idéia para fazer uma Lista de Objetos que não prestam para nada e dos quais eu quero me livrar.
 
Minha lista de coisas  inúteis  que vou fazer desaparecer da frente dos meus olhos.

1-   Um conjunto formado por três girafinhas (família completa) que comprei para aumentar minha coleção de girafas, mas que só de olhar para elas da vontade de quebrá-las.
2- Um pequeno relógio cuco semelhante aos que vi na parede de uma casa alemã em Canela formando um painel muito bonito. Pensei: vou fazer um igual. Comprei o primeiro, tão barulhento que não tive coragem nem de tirar da caixa.
3- Minha linda bolsa verde oliva com a estampa bordada de Betty Boop que eu perdi a vontade de usar desde que alguém me disse: “Que bolsa linda! Minha neta ia adorar!”
4- Minha saia preta rodada e bordada que comprei em Fortaleza e que usei uma única vez e me fez sentir ridícula.
5- Alguns livros que coloquei longe dos meus olhos porque só de olhá-los eu pergunto: Onde estava com a cabeça que comprei esses livros? São tão ruins que não consegui ler e nem tenho coragem de dar.
6- Sapatos mágicos que não entram em meus pés, mas que entraram na hora em que eu os comprei e que me deram a sensação de que com eles eu poderia até voar.
7- Roupas com fechos que não fecham, mas que na hora em que as comprei fecharam direitinho ou quase, porque eu tinha certeza de que ia emagrecer e não poderia perder aquela pechincha.
8- Meu casaco preto que bate no calcanhar e que quando usava ficava parecendo um padre das antigas em dia de enterro.
9-  Pilhas e pilhas de revistas que compro e que nem abro para ler ou por absoluta falta de tempo ou relativa falta de vista.

Tenho observado que a maioria das listas é formada por 10 itens ou algum de seus múltiplos, cem, ou mil. E aí eu tenho os mil lugares que quero conhecer, os mil livros ou filmes que preciso ler ou ver antes de morrer, etc. etc... e tal. Por isso só para ser diferente essa minha lista vai ficar apenas com nove itens, a disposição do freguês.

E quero agradecer a Revista Vida Simples, minha musa inspiradora e também aos sites que não visitei: http:// neighborgoods.net e  
WWW.louvre.fra sendo que o www é minúsculo e não sei por que cargas d água eles não querem me obedecer.

Lavras, 12 de fevereiro de 2010.