Coitadinhas das INHAS
Sou obrigada a parafrasear Marta Medeiros que, aliás, acabei de me tornar sua fã. De bobeira lendo uma revista encartada no Jornal O Globo li uma crônica super bacana dela, e depois da fala do Bial na saída da Josiane não parei mais de procurar por textos dela, me tornei leitora nessas férias e para não perder o costume, resolvi plagiar em outra roupagem as Boazinhas que me perdoem.
Que coisa chata esse negócio INHA: bonequinha, chatinha, gostosinha, vozinha, magrinha, fofinha, lindinha, safadinha, vagabundinha, ordinariazinha... ai ai Marta, realmente que me perdoem as boazinhas. Mas esse eu tenho de parafrasear:
“Fomos boazinhas por séculos. Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas. Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos. A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo certinho. Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa. Quietinhas, mas inquietas”.
Sabe quando você chega ao limite de não suportar mais ser boazinha e resolve virar a mesa. Boazinha? Pare ai, nunca fui esse anjo de candura, se querem meu dossiê visite minha segunda escola onde fiz o fundamental e fui expulsa depois de reprovar quatro vezes, ah, a quarta também, onde movimentei uma greve e fiquei três anos reprovada, e os cambaus e de quebra a São Camilo-ES onde só a misericórdia de Deus me tirou de lá depois de pagar matérias todos os anos e me formar em Letras para se verem livres de mim.
Boazinha mesmo nunca fui. Já pus detergente num copo ao lado de um de cerveja para meu patrão beber e ter uma diarréia de uma semana. Já dei de presente uma galinha viva a um professor numa caixa embrulhada que ao abrir a galinha arranhou a cara dele toda. Acho que puxei meu pai e por isso talvez ser boazinha não seja muito minha onda. Eu já fui patética e apaixonada, uma ridícula mandando flores e tudo, mas sabia o que estava fazendo, aliás, deveria estar com uma baita de uma macumba para ter sido tão idiota por tantos meses. Mas como diz a Marta:
“Descreva aí uma mulher boazinha. Voz fina, roupas pastéis, calçados rentes ao chão. Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de semana. Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor. Nunca teve um chilique. Nunca colocou os pés num show de rock. É queridinha. Pequeninha. Educadinha. Enfim, uma mulher boazinha”.
Quer saber, eu fecho com Medeiros desmonte o mundo de uma pseudo-boazinha e diz: Você não é o que parece ser, é uma metáfora chula, e chega ser como uma catacrese bem vagabunda. Mude o tom da voz e se mostre como és, que a gente vai ver quem és tu mulher de mentira.
“Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas, é isso que somos hoje. Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos. As inhas não moram mais aqui. Foram pro espaço, sozinhas”. Ainda bem Medeiros que estas ‘inhas’, foram mesmo para o espaço, e que me perdoe as santinhas, mas no fundo não passam de putinhas, safadihas apesar de gostosinhas. Eu preferiria as ONAS, mas de vez em quando uma ‘INHA’ ainda passa no meu caminho, porém, flores e chocolates já não fazem mais parte dos rituais dessa que nunca foi boazinha! Fui????